domingo, 13 de maio de 2012

Magia Draconiana: Os Dragões nas Diferentes Culturas da Humanidade - Parte II

Antes de tudo, gostaria de agradecer as dezenas de leitores que têm acessado e compartilhado com os amigos a coluna Magia Draconiana. É um imenso prazer estar escrevendo sobre um assunto tão rico e tão profundo, que há milênios desperta o senso de culto e a cultura dos mitos da humanidade!

Na primeira parte do artigo que leva esse mesmo título, discursamos sobre a presença dos dragões na Suméria e na Babilônia, falamos largamente sobre sua importância na cultura chinesa, e pudemos pincelar brevemente também a respeito deles na cultura Indiana, mitologias Persa e Egípcia.

Agora, na segunda e última parte sobre os Dragões nas diferentes culturas da humanidade, veremos sua presença em algumas das mitologias nativas das Américas e da Europa, assim como se desenvolveu seu significado dentro da mítica cristã.

Astecas, Toltecas e Maias

Assim como vimos em mitos de culturas asiáticas, muitas vezes, seres draconianos (ou draconídeos) surgem descritos não em sua forma clássica plena e conhecida na cultura ocidental, mas em forma de serpentes com atributos não característicos a elas. Esse é o caso de Quetzalcoatl, a divindade mesoamericana cujas evidências de culto  foram encontradas entre os maias, os toltecas, olmecas e especialmente entre os astecas.

Conhecida entre os maias como Kukulkán, o nome Quetzalcoatl advém da língua naútle (também conhecida como asteca), onde "quetzal" é o vocábulo utilizado nesse idioma para identificar uma ave específica bastante emplumada presente na selva mesoamericana - e "coatl", que significia literalmente serpente. Nesse caso, a tradução óbvia para o nome do deus Quetzalcoatl é "Serpente Emplumada", e era como de fato essa divindade tão importante desses panteões mesoamericanos era representada.

Quetzalcoatl é o deus que personifica as energias telúricas primordiais que crescem, emanam e se elevam da própria Terra. Daí seu próprio nome, Serpente Emplumada; suas atribuições estavam e ainda estão diretamente ligadas a toda energia que impulsiona a expansão e o crescimento da vida vegetal, sendo responsável pela providência dos alimentos. Nesse sentido, não há separação entre significado de culto voltado mais ao "espiritual" ou ao "material", pois a própria fluência energética de Quetzalcoatl na Terra é a profundidade espiritual necessária e reconhecida nos cultos erigidos pelos povos que originalmente o celebraram.

Mais especificamente entre os astecas, Quetzalcoatl estava em seu apogeu de culto quando da chegada dos espanhóis em terras americanas. Naquela época, Quetzalcoatl já era identificado com o planeta Vênus, tanto na forma de Estrela da Manhã quanto na de Estrela da Noite, onde passou também a representar as forças da Vida e da Morte, da Luz e da Escuridão, algo bastante clássico e característico a divindades de natureza draconiana.

Apaches e Povos Nativos Norte-Americanos

Não é muito documentada a presença de dragões nessas culturas. O  mito mais conhecido é encontrado na cultura Apache, possivelmente oriundo já de um período tardio que retrata uma lenda do primeiro chefe da tribo lutando contra um dragão, utilizando somente arco e flechas. Na lenda, o dragão também é retratado como possuidor de arco e flechas feitos por enormes árvores de pinheiro. O mito encerra contando que o dragão fora morto pelo chefe apache, o que nos leva a entender que para essa cultura, em específico, esse ser draconiano representava alguma força ou circunstância prejudicial à tribo.

Cultura Tupi-Guarani e Folclore Brasileiro

É difícil falar especificamente da presença de dragões entre as milhares de culturas do ramo Tupi-Guarani. Sabemos sim da presença mítica da Serpente, como Senhora da Noite, muitas vezes relacionada com a Lua, mas geralmente muito associada à energia telúrica.

Já no folclore brasileiro, encontramos a curiosa figura do Boitatá, do Sul ao Norte do Brasil. Boitatá é sempre descrito com uma Grande Serpente de Fogo, protetora das matas, florestas e pântanos. É dito que, ao aproximar-se do Boitatá com más intenções, ele cospe fogo mortal sobre esse ser, em especial aquele que atentar contra seus domínios, que estão sob sua absoluta proteção. Aqui, podemos ver com mais clareza a figura do dragão como Guardião da Terra e da Natureza.

Europa

É largo o espaço de tempo no qual encontramos a presença de dragões nas mitologias de tempo, assim como são largas as diferenças e atribuições que encontramos para elas nas mais diferentes culturas.

Na velha Europa pré-patriarcal, anterior às invasões arianas, a serpente era um dos símbolos máximos de culto à Deusa Mãe nas culturas anatólicas, cretenses, região da Península Itálica, assim como em terras e ilhas banhadas pelo Mediterrâneo.

Com as sucessivas invasões indo-europeias que deram origem aos povos germânicos, nórdicos, gregos, romanos, celtas e outros, os mais diversos mitos surgiram a partir da integração dos antigos conceitos presentes na região com os novos trazidos por esses povos arianos. Muitas vezes, a figura da Serpente tornou-se maléfica mesmo antes da presença do Cristianismo, como nos mitos nórdicos que retratam a história de Siegfried, que é tido como herói por matar o dragão Fafnir em algumas versões, tomando a força do último para si.

Mas na própria mitologia nórdica os dragões surgem inúmeras vezes, nem sempre representando as mesmas forças. Nidhogg, por exemplo era o dragão que vivia "sob as cinzas do mundo", o que nos remete ao simbolismo mais tradicional mítico draconiano. Em geral, para os povos nórdicos, os dragões habitavam cavernas e águas profundas, sendo regentes e guardiões dos mesmos. Não era incomum tribos nórdicas adotarem dragões como totens, inclusive, esculpindo suas imagens em seus navios para os protegerem dos inimigos e das catástrofes naturais. Aqui, não podemos nos esquecer de Jormungand, a grande serpente marinha que amendontrava os Vikings por exercer domínio sobre os mares. Ter sua imagem em seus barcos era uma forma de se associarem ao dragão e garantirem viagens mais tranquilas.

Entre os gregos, podemos mencionar Píton, a grande serpente responsável pelo antigo Oráculo de Delphos, que muitas vezes é descrito como um dragão. As sacerdotisas responsáveis pelo Oráculo foram conhecidas como pitonisas, fazendo clara menção à intrínseca relação delas com essa força primordial. Os mitos posteriores descrevem o deus Apolo dominando a grande Píton e a mantendo sob o Oráculo de Delfos, onde então o deus estabeleceu seu domínio, porém ainda assim, com as forças da Grande Serpente.

As lendas celtas estão recheadas pela presença de dragões dos mais diferentes tipos. Falar sobre elas aqui, exigiria muito espaço e é recomendado e estimulado ao leitor buscar ler sobre os mitos de Cúchulainn e Sláine, assim como suas aventuras envolvendo dragões. Entretanto, é importante termos em mente que grande parte do simbolismo do dragão que prevaleceu em lugares como a Irlanda, as Ilhas Britânicas e parte da Península Ibérica é descendente direta da forte presença mágica e mítica desses seres em seu período pré-cristão.

Não era incomum a presença do dragão em brasões de clãs célticos, assim como nos estandartes de guerra dessas tribos. Isso evoluiu, se estendendo para a Idade Média, convivendo inclusive com o advento do Cristianismo. A bandeira do País de Gales (Reino Unido) herdeiro da cultura celta galesa é, até hoje, um fundo verde e branco com um enorme dragão vermelho sobre ele, lembrando a identidade céltica viva nessa porção das Ilhas.

O Advento do Cristianismo e a Figura do Dragão

A serpente, desde o Velho Testamento foi associada com a personificação absoluta do Mal e do próprio Demônio Judaico-Cristão. No Velho e no Novo Testamento, são claras as alusões a seres ofidianos e bestiais (algumas vezes com características draconianas) que representam ameaça e que devem ser derrotados pelo deus de Israel e seu povo.

Na Idade Média, essas figuras tomaram uma proporção desigual quando foram associadas aos mitos de culturas pré-cristãs. Rapidamente, serpentes e dragões que antes eram considerados forças benéficas, passaram a ser identificados pela Igreja como sendo o próprio Diabo, o Pecado, o Mal em toda sua amplitude.

Férteis foram as lendas e estórias sobre dragões durante toda a Idade Média e o predomínio da religião Católica na Europa. Era inquestionável o fato de que dragões eram reais - aqui, fisicamente falando e abundaram os heróis cristãos matando, dizimando e aniquilando dragões "ameaçadores" e "destruidores" de castelos, feudos e comunidades. A população européia da Idade Média realmente acreditava na existência de dragões como demônios encarnados na Terra.

E não é difícil entender como isso aconteceu, quando analisamos brevemente o mito de São Jorge. Nascido na Capadócia (atual Turquia,  antiga Anatólia, um dos berços da Civilização Matrifocal) no ano de 275, a Igreja o toma como uma figura histórica, santificada pela sua atuação como um dos primeiros nobres guerreiros cristãos que resistiu às crenças pagãs até a morte. Diz-se que São Jorge teria matado um dragão durante sua vida, como é retratado tradicionalmente em imagens e estandartes.

Rapidamente a veneração de São Jorge se expandiu pelo mundo cristão, levando lugares como a Inglaterra, Portugal e Catalunha a adotarem-no como padroeiro - o que é vigente até os dias de hoje. A análise aqui é simples, apesar de profunda: a imagem de São Jorge matando o Dragão, nada mais é que o retrato do Cristianismo triunfando e pisoteando sobre as Antigas Fés.

Nos próximos artigos, aprofundaremos os significados e a simbologia dos dragões, levando em consideração que já pudemos entender boa parte de sua presença e evolução de seus mitos durante os mais diferentes períodos da humanidade.

Até lá e abençoados sejam!

2 comentários:

Eross Wertt disse...

Achei sua análise do simbolismo de S. Jorge simplista e unilateral.
Há muito mais de pagão, oculto na estampa desse santinho.
Lembre-se que S. Jorge é sincretizado com Ogum, e no Voodoo vemos o lôa Ferraile-Ogoum, o que nos liga à imagem do Ferreiro Tubal-Caim na Bruxaria Tradicional do Clã de Tubal Caim. E Portanto, temos aí a ligação com Vulcano, Hefaístos, muitas vezes representado de forma similar aos anões nórdicos trabalhando o metal.
Além de que carrega a lança que originalmente era de Athena.
E vemos ele trabalhando com o fogo da forja, o msm fogo que vem da chama sagrada que devemos manter acesa, como as Vestais, o fogo interior da iluminação.
Além do mais, em culturas de caçadores, os animais que eram abatidos na caça, eram muitas vezes venerados, e respeitados por ter doado sua vida, por ter dado espaço para outra vida continuar. E sem contar que nas mitologias, e na iconografia, qd um Deus mata outro significa que seu culto foi substituído, mostrando uma alternância de cultos, em que um Deus de uma região específica passa a ser o chefe de td o panteão, como ocorria no Egito, sempre que uma família real assumia o comando, seus patronos (de sua região) iam junto para o topo. Além do mais, vemos que o novo Deus surge como uma forma nova, ou máscara do antigo Deus, como Amon-Rá é Rá Renascido.
Então qd S. Jorge mata o Dragão, significa que ele msm é um dragão, mostrando que devemos matar nossos demônios interiores (ou pelo menos controlá-los) para conseguirmos voar mais alto. Então S. Jorge representa um iniciado, e o caminho para a iniciação.
Além do mais, há outra questão, os santos patronos dos locais, ou de igrejas de bairros, ocultam a antiga tradição do Deus Patrono de uma Região Específica, ou dos Espíritos do Local (A bruxaria é toponímica).

Ronaldo Lopes disse...

Este Sr. que fez o comentário anterior, de verdade deveria constituir um site, o homem tem uma falácia, viajou pelo mundo e pelo etereo só para falar de S. Jorge, um cavaleiro andante em busca de fama, parabéns, apláusos para vc, demostraste uma cultura... Com licença de meu S. JORGE Ogun guerreiro...SARAVá. Obrigado ao site por existir!!!!!

 
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