quarta-feira, 31 de julho de 2013

Intérpretes de almas – Uma viagem pelo xamanismo da Sibéria

O xamanismo é uma maneira de interpretar o mundo, ou melhor, os mundos, compartilhada por povos de quase todo o planeta. Mas, se há algum lugar onde se tornou possível estudar e documentar esse fenômeno, foi no vasto território russo-asiático. O fruto deste trabalho está agora exposto no Museu Valenciano do Iluminismo e da Modernidade (MUVIM), na Espanha, que hospeda até o dia 29 de setembro a mostra "Os Outros Mundos - Xamanismo nos Povos da Sibéria”.
No início do século XX, foram catalogados 33 grupos étnicos nativos da região da Sibéria e do Extremo Oriente da Rússia. Apesar das diferenças significativas entre eles, todos praticavam rituais xamânicos. Com a urbanização progressiva de suas terras, a industrialização, a colonização e, principalmente, a perseguição religiosa nos tempos soviéticos, esta forma de vida e de espiritualidade foi diminuindo, chegando hoje às raias da extinção.
Se parte deste conhecimento ancestral chegou até nós, foi em muito devido ao trabalho dos pesquisadores do Museu Russo de Etnografia, que se encarregaram de documentar e recolher objetos diversos relacionados ao xamanismo, não sem alguma resistência de seus proprietários, que achavam que estas peças simbólicas eram a garantia de sua sobrevivência cultural, bem como de sua conexão com os antepassados.
Mas vamos por partes. O que queremos dizer com xamã? Nas palavras de Joan Gregori, curador da exposição do MUVIM, "o xamã na Sibéria é o portador de conhecimentos sagrados, crenças e tradições, sendo dotado de qualidades tais como cura, magia ou adivinhação. Mas, acima de tudo, cumpre o papel essencial de companheiro e guia das almas dos mortos para o mundo dos espíritos, a fim de ajudá-las a encontrar seu lugar entre os ancestrais".
Ou seja, o xamã, que pode ser homem ou mulher, seria uma espécie de intermediário entre os vivos e os espíritos ao seu redor. Alguém dotado de um dom especial, que permite a ele ou a ela viajar entre os três mundos que formavam a cosmovisão desses povos: o submundo, o mundo superior e o mundo que nos rodeia e que é o único que podemos ver.
Qual é a diferença entre o xamanismo e a feitiçaria? De acordo com Gregori, a bruxaria é mais comum na África e tem certo viés maligno, enquanto que o xamanismo é mais típico da Europa, da Ásia e da América. Supõe-se que o feiticeiro tenha um pacto com o diabo. O xamã, por outro lado, se conecta com os espíritos, que podem ser bons ou maus. E se forem maus, o xamã lutará contra eles para proteger a comunidade. A cerimônia pela qual o xamã se conectava com essas almas é conhecida como kamlanie. Este ritual, muito vivo para os povos siberianos entre o final do século XIX e início do século XX, estava intimamente ligado ao respeito em relação aos elementos da natureza.
Este "fundamento ético" fazia, por exemplo, com que essas culturas caçassem e pescassem só o que elas precisavam para viver e muitas vezes fizessem oferendas para agradecer a natureza por seus presentes. Segundo Gregori, essa concepção "naturalista" levou a uma espécie de "neo-xamanismo" intimamente ligado ao movimento hippie. Outra ligação entre os xamãs antigos e modernos seria o êxtase, que é o que permite a conexão com os espíritos durante o ritual. Este transe é conseguido pela ingestão de álcool ou drogas psicotrópicas, música, percussão ou jejum, todos métodos documentados entre os povos da Sibéria.
O toque do tambor é o modo mais comum para se obter o êxtase e, por isso, é um dos elementos mais importantes da tradição. Outros símbolos são o chum, local onde é realizado o ritual xamânico, a árvore da vida, coluna de madeira que representa os três mundos e os “aliados”, entidades espirituais que ajudam o xamã em sua missão.
Mas o símbolo fundamental é o traje. "As vestes são como um uniforme. Sem ele, o xamã não é um xamã", diz Gregori. A roupa é concebida como uma armadura, com capacete, colete e elementos metálicos, como sinos, tudo para auxiliar o xamã na luta simbólica contra os maus espíritos de outros mundos. Além disso, o traje representa o universo e fala de seu dono, das viagens astrais que ele fez ou da força de seus aliados. Por exemplo, na exposição de Valência, há um que pesa 43 quilos e que dá a entender, por sua complexidade, que pertenceu algum dia a um xamã extremamente respeitado.
A mostra, de acesso livre e gratuito, é, enfim, uma oportunidade única para quem quer conhecer um pouco mais sobre os rituais xamânicos e a bela tradição daqueles povos, pois é a primeira vez que esses objetos saem do Museu Russo de Etnografia, em São Petersburgo. E para quem não está na Espanha, vale pelo menos uma visita ao site do museu:  www.muvim.es .

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Filosofia Oculta: Amor platônico


Para compreender tal assunto irei muito breve e grosseiramente introduzir a teoria das ideias em Platão e, a partir dela, desenvolver também uma breve explicação sobre o amor.


Platão dirá que há dois mundos, o primeiro seria um mundo superior no qual ele chamará de mundo das Ideias, que é basicamente um mundo incriado, imperecível e imutável, onde apenas residem os particulares, ou seja, as ideias. O outro mundo é da pluralidade ou mundo sensível, passivo aos sentidos, onde as coisas se originam e com a corrupção sendo meramente uma sombra do mundo das Ideias.

   O mundo das ideias é, em resumo, o mundo perfeito e verdadeiro, onde podemos encontrar as coisas em si, enquanto que no mundo sensível nos é mostrado apenas os reflexos ou sombras, ou seja, ilusões das coisas verdadeiras. Feito esta apresentação rudimentar das teorias ideias, passo agora a apresentar o amor platônico e, segundo essa mesma filosofia, pretendo apresentar a importância do amor para os homens e principalmente para o filosofo em sua busca pela verdade.

   O filosofo grego explicará o que é o amor através do mito, na obra O Banquete, onde pela personagem Diotima ele explica que o amor é filho da Penúria e da Riqueza, concebido no dia do nascimento de Afrodite. Sendo filho da Penúria, Eros (Amor) está sempre em falta, necessitando completar-se, desejante. Porém sendo filho da Riqueza não deseja qualquer coisa, mas tudo o que é belo e bom. Sendo filho destes, Eros não é rico ou pobre, mas está entre os dois, pois não é tão pobre que ignora a riqueza, nem tão rico a ponto de não precisar buscá-la.

  Assim, segundo Platão, o amor é um desejo e como tal uma falta somada à necessidade de completar-se. Sendo o Amor uma falta, ele será o responsável por todas as buscas humanas, desde as buscas relacionadas ao corpo até as movidas pela alma. Como já foi dito, Eros não busca qualquer coisa, mas somente coisas ligadas a Beleza, por isso toda busca é uma busca ao belo, mesmo que o ser ignore este fato e não venha porventura alcançar a Beleza.

O Amor é um desejo e que, por outro lado, mesmo as pessoas que não amam desejam sempre o belo. [...] em cada um de nós existe dois princípios, de forma e de conduta, que seguimos para onde eles nos conduzem: um, inato, é o desejo do prazer, outro, adquirido, que aspira sempre ao melhor.” (Platão, Fedro)

   O que busca um homem então quando ama uma mulher? Ou uma mulher quando ama um homem? Ou ainda, o que buscam pessoas que amam outras do mesmo sexo? Estes encontram o reflexo do belo e através disso desejam o outro buscando completar-se, pois todo amor é uma falta, uma necessidade de completude pelo encontro do Bem e do Belo.

“ A nossa natureza primitiva era aquela que eu disse, e nós éramos um todo único. Assim, é ao desejo e à busca dessa totalidade que se dá o nome de amor” Platão, O Banquete
(Ubaldo Nicola, p 74)

   A busca do belo, segundo a personagem Diotima, se dá inicialmente pelas paixões do corpo e, através dela, pela ascensão gradual até o Belo em si mesmo, ou seja, buscando os belos nas coisas particulares e a partir dos particulares alcançar o Belo em si.

Em primeiro lugar, de fato, se for bem orientado, deve amar um corpo em particular e engendrar uma bela conversa; mas em seguida vai notar como a beleza desse ou daquele corpo é semelhante à de qualquer outro e que, se pretende buscar a ideia da beleza, é rematada tolice não encarar como uma só coisa a beleza que pertence a todos. Tendo percebido essa verdade, deve tornar-se amante de todos os belos corpos  e arrefecer seu sentimento por um único, desprezando isso como uma bobagem.Seu próximo passo será dar maior valor à beleza das almas do que à do corpo, de forma que, por menor que seja a graça de qualquer alma promissora, bastará para seu amor e cuidado e para despertar e pedir um discurso que sirva a formação dos jovens. E por último pode ser levado a contemplar o belo que existe em nossos costumes e leis e observar que tudo isso tem afinidade, assim concluindo que a beleza do corpo é questão menor. Dos costumes pode passar aos ramos do conhecimento e aí também encontrar uma província da beleza. Vendo assim a beleza no geral,poderá escapar da mesquinha e miúda escravidão de um único exemplo em que concentre como um servo todo o seu cuidado, como a beleza de um jovem, de um homem ou de uma prática. Dessa forma voltando-se para o oceano maior da beleza, pode pela contemplação despertar em todo o seu esplendor muitos e belos frutos do discurso e da meditação, numa rica colheita filosófica; até que, com a força e ascensão assim obtidos, vislumbra o conhecimento especifico de uma beleza ainda não revelada. [...]
 Quando um homem foi assim instruído no conhecimento do amor, passando em revista coisas belas uma pós outra, numa ascensão gradual e segura, de repente terá a revelação, ao se aproximar do fim de suas investigações do amor, de uma visão maravilhosa, bela por natureza, e esse Sócrates, é o objetivo final de todo afã anterior. Antes de mais nada, ela é eterna e nunca nasce ou morre, envelhece e diminui [...], existente sempre de forma singular, independente, por si mesma, enquanto toda multiplicidade de coisas belas participam de tal modo que, embora todas nasçam e morram , ela não aumenta de diminui e não é afetada por coisa alguma.” Platão, O Banquete
( Danilo Marcondes, p29)

 Desse modo, a busca pela sabedoria é também uma busca guiada pelo amor. O filosofo busca e ama a sabedoria, pois ele não a possui, e ele a busca por ela participar do Bem e do Belo mais que qualquer desejo do corpo, visto que a sabedoria é um desejo concernente a alma, e como tal, mais próximo de contemplar a verdade.
  Todo homem busca o belo, todas as ações são guiadas pelo amor e a necessidade de completude, as ações podem ser ações de temperança ou de gula, ou seja, orientadas ou não pela razão, desse modo, se não houvesse o amor e o desejo, não estaria o homem hoje, estático?





Referências Bibliográficas

Danilo Marcondes,Textos básicos de filosofia, editora Zahar, 1999.
Platão, Fedro ou da Beleza, Editora Guimarães, 2000.

Ubaldo Nicola, Antologia Ilustrada de Filosofia, Editora Globo, 2005.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Anotações para um dia de chuva

Estou cada dia mais convencido que ser adepto de uma religião pagã implica em uma reeducação do olhar. É preciso admitir que não somos pessoas compartimentadas, capazes de assumir uma posição social e esquecer as demais possibilidades de ser ou papéis disponíveis em detrimento de um único. Somos cidadãos, pai, mãe, filho, profissional, bruxos, reconstrucionistas, pessoas: tudo junto e ao mesmo tempo. Nessa perspectiva, viver numa cidade, em um centro urbano, para o paganismo, implica uma reeducação do olhar, a construção de um novo instrumento de aprendizagem: a sensibilidade. É essa sensibilidade que torna possível aprender e ensinar, compartilhar, aprender com os outros, e não apenas para os outros. 

Tomo essas palavras iniciais porque é a partir da cidade, dos seus pequenos detalhes, cheiros e contornos que gostaria de descrever as impressões e memórias - que agora contabilizo em retrospectiva - do segundo Encontro Pernambucano de Neopaganismo, realizado entre 12 e 14 de julho de 2013, em Olinda.

Olinda é uma cidade decisivamente encantadora. Suas ladeiras, doloridas e sinuosas, poderiam servir de inspiração aos pincéis de qualquer um que tenta emprestar à inspiração o desejo pelo belo. Mais que isso, Olinda serviu de cenário para os momentos de silêncio e canto, troca e doação, amizade e companheirismo que podem traduzir, sem perigo de equívoco, o que aconteceu nestes três intensos dias de encontro.

Tentemos então recompor o cenário e seus elementos: adicione às ladeiras de Olinda, todas as cores que a imaginação colonial pôde emprestar à arquitetura da cidade: vermelhos, amarelos, azuis, verdes, brancos, multicores. Misture tudo em matizes frias e aconchegantes: luz baixa, clima de casa de avó. Junte seus melhores amigos, pessoas às quais você tem saudade e vontade de [re]ver. Som de chuva ao fundo, e um sol preguiçoso. Aqueça em círculo, acompanhado de uma bela chama de fogo e cânticos. Pronto.

Em tantos anos acompanhando os encontros regionais e outros eventos paralelos na Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará tenho aprendido que é um erro lexical chamar os eventos em si de "encontro". Por certo a palavra reencontro caberia e significaria muito bem a singularidade desses momentos. Como descreveu o amigo Dênis Machado, colunista deste jornal, antes mesmo de pensar nas discussões, nos debates, nas atividades, a principal expectativa dos encontros é a reunião, a perspectiva da troca de abraços, sorrisos, momentos de união, "reencontro".

É esse clima de fraternidade e amizade que sublima qualquer imprevisto, o peso dos atrasos e das ausências e das partidas. Termino esta crônica com a frustração do tradutor que admite a fragilidade e as limitações que pesam sobre si ao tentar transformar o maravilhoso das experiências em palavras. Assim, que fique as imagens e o sentimento de lamento por parte dos que não puderam fazer parte destes dias, e a recomendação de que possam participar de tudo isso nos próximos momentos.

Eirene Theoi.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A Lança: O Deus Primordial no Egito Antigo (Parte final)

Para ler a primeira parte deste texto, clique aqui.
Para ler a segunda parte deste texto, clique aqui.
Para ler a terceira parte deste texto, clique aqui.

Com tudo o que vimos até aqui podemos compreender como somos todos parte de Atum. Pois, em todos nós temos uma cuspidela do Deus, o Sopro do Ka, nossa alma divina, nossa essência faz parte desse todo invisível e incompreensível chamado Atum.

Enfim, para finalizar o texto sobre Atum, iremos falar sobre uma última alegoria com a qual Ele era identificado: a "Serpente nas Trevas Primordiais" ou Quematef, "aquela que completou o seu tempo". Também conhecida como Sito, "Filho da Terra" ou Iru-to, "Criador da Terra", ergia-se das águas Primordiais na forma de uma serpente monstruosa que tomou forma antes que existisse qualquer coisa a ser definida (Clark, s/d).

A serpente torna-se portanto símbolo da criação verbal, é Aquela que cria toda a multiplicidade e os delimita ao determinar sua essência. Aqui temos duas figuras superpostas: a representação de Atum e a criação pela masturbação e, os anéis da serpente que irão delimitar a criação, funcionando como os limites do mundo. Situa-se também nas duas extremidades do tempo é Aquela que cria e dá início e Aquela que estará no fim quando irá submergir novamente para as Águas Primordiais (Clark, s/d).

Com o passar do tempo Atum foi deixando de ser cultuado e Ptah passou a ocupar o seu lugar. Isso provavelmente ocorreu, pois Atum possuía muitas características humanoides e quando Mênfis passou a ser a capital do Egito eles rejeitaram essa ideia por conceber Deus como um princípio fundamental da organização do mundo. E assim, Atum passou a ser o intermediário entre o pensamento de Deus e sua criação (Clark, s/d).

Para efeito de causa, Atum é o Deus Primordial aquele que não pode ser conhecido, que está além do que nossa mente humana pode captar. Ele é e não é. É a potência e é a criação.

Para encontra-lo, basta mergulhar nas Águas Primordiais, voltar ao Abismo e ao que não existia.

Até a próxima.

Referência Bibliográfica:

Clark, R. T. R.;Símbolos e Mitos do Antigo Egito: Deuses, mitos e cultos: Osíris, Néftis, Órus, Ísis, Seth. Apopis. Editora Hemus. p. 29 a 35.

sábado, 6 de julho de 2013

Benzedeiras são consideradas profissionais da saúde no Paraná

Um mapeamento feito em 2009 pelo Movimento Aprendizes da Sabedoria (Masa) identificou em Rebouças, no centro-sul do Paraná, 133 benzedeiras. Segundo o Censo de 2010, 14.176 pessoas vivem na cidade. O levantamento foi encaminhado para a Câmara Municipal de Vereadores e deu origem a um projeto de lei para regulamentar a prática. O texto foi aprovado pelos parlamentares e sancionado pelo prefeito em Luiz Everaldo Zak (PT). Rebouças é o primeiro município do país a oficializar a prática de benzedeiros, curadores, “costureiro de rendiduras” ou “machucaduras”.
Rebouças (Foto: Taísa Lewitzki)Agda Cavalheiro, de 67 anos, explicou que o trabalho de benzedeira é orar (Foto: Taísa Lewitzki)
Para Ana Maria dos Santos, de 46 anos, que aprendeu o ofício com o pai, a regulamentação trouxe segurança. "Agora temos mais segurança, trabalhamos mais tranquilo. Podemos benzer dentro do posto, dos hospitais, sem medo", conta. A benzedeira explicou que antes da medida ela e as colegas tinham medo de serem denunciadas.A proposta, que é de 2010, também permite que estas pessoas colham plantas medicinais nativas no município livremente para o exercício do ofício. A lei concretizou uma parceria entre a tradição e as políticas públicas voltadas para a sáude. “O município de Rebouças reconhece os saberes e os conhecimentos localizados realizados por detentores de ‘ofícios tradicionais’ , como instrumento importante para a saúde pública do município”, diz o Artigo 3º da lei.
Solteira e sem filhos, Ana Maria se mantém com uma ajuda do governo federal e com algumas doações que as pessoas fazem em troca do serviço. "Deus não cobra nada de ninguém. E é Deus, Nossa Senhora que curam. Quem doa, doa de coração", comenta. Ela diz que se sente privilegiada por ser benzedeira. "Quando chegar no céu vamos receber um prêmio por tudo que fizemos de bom. Isso é muito gratificante".
benzer  (Foto: Taísa Lewitzki)
Na família de Ana Maria dos Santos benzer é um
ofício passado de geração para geração
(Foto: Taísa Lewitzki)
A tradição de benzer está há gerações da família de Ana. O bisavô, também benzedeiro, era descendente de índio e passou o conhecimento para o avô que ensinou para o pai. “Somos em seis irmãos e ele [o pai] dizia que era eu ia ficar no lugar dele", contou Ana. Se depender da benzedeira, a costume familiar não vai acabar, mas ela também reconhece que há necessidade de as sobrinhas, de 10 e 15 anos, se interessarem pela arte. “Se elas decidirem aprender, eu posso passar pra elas”.
Agda Andrade Cavalheiro, de 67 anos, contou que é benzedeira para ajudar e comemora a lei que regulariza o oficio. "Foi uma alegria muito grande [ser reconhecida pela lei], porque a gente ajuda muita gente na doença, na pobreza. Porque quem tem recurso vai direto ao especialista", explica a benzedeira. "Às vezes o que falta é oração. O trabalho da benzedeira é a oração e os chás medicinais. E isso também pode ajudar no tratamento médico", explica.

Para poder exercer o oficio livremente, a benzedeira deve ir à Secretaria Municipal de Saúde e solicitar a Carta de Auto-Definição, na qual deve descrever de que forma trabalha. Depois, o órgão emite o Certificado de Detentor de Oficio Tradicional de Saúde Popular e uma carteirinha.

Na avaliação do prefeito de Rebouças, Luiz Everaldo Zak (PT) a lei veio apenas para regulamentar algo que já ocorria e que fazia parte da tradição da cidade. “Na realidade é uma coisa que acontece, não tem como ignorar isso”, afirmou o prefeito. Segundo ele, a diferença é que agora as benzedeiras e curandeiros são cadastrados e recebem uma carteirinha emitida pela Secretaria Municipal de Saúde para exercer o ofício. “Agora nós sabemos o que eles fazem”, acrescentou o prefeito. Zak destacou que essas pessoas podem auxiliar a saúde pública ao passarem orientações adequadas.
O prefeito explicou que já houve algumas reuniões entre os profissionais da secretaria e as benzedeiras e que a equipe da Saúde da Família tem contato direto com mulheres. “Algumas pessoas procuram direto e a gente pede para que eles procurem as situações graves que encaminhem, para a saúde pública, para a medicina convencional”, disse Zak.

Fonte: G1

TV Brasil estreia programa sobre diversidade religiosa

TV Brasil estreia neste sábado, 6, às 8h30, a série Liberdade Religiosa, uma produção de 2011 da TVE Bahia. Nos sete episódios, temas do dia a dia são tratados sob a ótica de lideranças de diferentes doutrinas, como Mãe Cecília, ialorixá do Terreiro Ilê Axé Maroketu, em Salvador, André Luiz Peixinho, presidente da Federação Espírita da Bahia, Padre Manuel Filho, membro da Igreja Católica, e Pastor Djalma Torres, representante da Igreja Batista.


O episódio de estreia destaca a religião e o meio ambiente. Nele, os líderes religiosos conversaram com a artista plástica Graça Azevedo, suma sacerdotisa do Templo Casa Telucama (bruxaria de origem celta e ibérica).

“Nosso propósito é a preservação do grande útero de Gaia, ou seja, o planeta Terra”, destaca Graça.

Os demais temas da temporada serão Liberdade Religiosa, Morte e Imortalidade, O Trabalho e o Sentido da Vida, Família e Educação na Fé, Os Ideais Religiosos na Atualidade, Cultura da Paz e Religião e Sexualidade.


As diversas expressões culturais brasileiras reúnem também um leque de religiões, que trazem suas formas peculiares de interpretação das relações entre vida, comportamento humano e um universo divino. Na série Liberdade Religiosa, uma produção da TVE Bahia, temas do dia a dia são tratados sob óticas de lideres de diferentes doutrinas.


Liberdade Religiosa 

Sábado, às 8h30

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Sexo e paganismo na abertura do Festival Internacional de Cinema

Teve início no dia 02 de Julho o FIDMarseille, Festival Internacional de Cinema, que acontece na França até o dia 08 de Julho. Além da competição, o festival reúne cineastas para a discussão sobre os mais diversos projetos cinematográficos e definição do futuro do cinema mundial. A abertura do evento se deu com com a apresentação do último trabalho russo Aleksei Fedorchenko, realizador de filmes como Silent Souls. 

Recuperado a região onde filmou essa obra, e pegando em 23 segmentos que acompanham as mulheres de Mari, uma povoação na região no norte da Rússia e que se distingue da restante nação pela manutenção das suas tradições pagãs, bem longe do moralismo cristão (católico ou ortodoxo), Fedorchenko convida o espectador a seguir uma série de histórias individuais ou coletivas que transpiram a sexualidade e o misticismo que já deu a este Celestial Wives of the Meadow Mari (Nebesnye zheny lugovykh mari) o apelido de Decameron do leste. Esse mesmo apelido acaba por justificar a inclusão do filme como obra de abertura do certame, pois um dos grandes momentos do FIDMarseille é mesmo uma grande retrospetiva e homenagem a Pier Paolo Pasolini – que em 1971 realizou esse mesmo filme.

Escusado será dizer que o espectador comum sentir-se-a como um ovni no meio das histórias aqui retratadas em modo calendário da população, muitas delas apresentadas de forma curta e onde o surrealismo transparece com a exposição à letra de muitos dos mitos e folclore da zona, como o da criatura que vive nas florestas, ou um pássaro comum numa ravina que habita a vagina de uma mulher amaldiçoada, ou ainda a mulher que perde o apetite pela vida a não ser que peça perdão a uma árvore.

É assim entre risos, alguma estupefacção mas sempre fascínio que o espectador se deixa envolver num filme que tem de ser visto para se crer.

Fonte consultada: C7nema

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Intercâmbio Magnético: espiritualidade e magia sexual


Todos os seres humanos, sem exceção, têm algo de forças elétricas e magnéticas e exercem, qual um magneto, uma força atrativa e outra repulsiva. Entre pessoas que se adoram é especialmente poderosa essa força magnética, e sua ação atinge longa distância. 


A Magia Sexual, o Sexo-Yoga, conduz inteligentemente a unidade mística da alma e da sensualidade, ou seja, a sexualidade vivificada. O sexual deixa de ser motivo de vergonha, dissimulação ou tabu e torna-se profundamente sagrado. Goethe, o grande iniciado alemão, declarava-se apaixonado pela existência mágica do ser criador; por uma magia anímica que atua sobre os corpos. 

A espiritualidade e a magia sexual caminham juntas. Em nome da verdade devo lhes dizer que não são hormônios ou vitaminas patenteadas o que necessita a humanidade para viver, e sim, do completo conhecimento do Eu e do intercâmbio inteligente das faculdades afetivas entre o masculino e o feminino. Quando nós aceitamos nossa natureza e energia sexual, ficamos livres para usar todos os seus poderes em nosso benefício. Dito isso, nossa atual realidade nos faz perceber que Religiões têm feito muito para suprimir nossa natureza sexual, e têm mantido as pessoas ignorantes. em relação ao uso desta nossa energia divina.


Como clarividente, e praticante da magia sexual, posso afirmar que durante o Sahaja Maithuna*, experimenta-se a máxima sensação erótica. Em nosso interior o Universo renasce e a vida ressurge. Flamas dinâmicas, magnéticas, como ondas de um mar de gás vermelho purpúreo, terrivelmente divino, rodeiam o casal durante o transe sexual. Sem se ocupar em confusões de abordagem ética e moral o praticante da magia sexual, observador da natureza íntima contida em tudo no universo, procura na união dos pólos opostos à unidade maior, constituída de impulsos magnéticos, da atração magnética, do amor e da atração entre os opostos. 

E o leitor pode estar se perguntando, mas de que vale tudo isso? Qual a virtude na prática da magia sexual? Consta informar que essa prática, ilumina a consciência tocando os centros superiores, é o que nos une em Purusha (consciência cósmica). Desta forma, não vamos mais adorá-la ou ignorá-la, e sim entrar em harmonia, e olhar para nossa sexualidade como parte da nossa divindade. Assim, isto se tornará alegre, leve e amoroso, e aprenderemos a usar o sexo não só para a procriação ou gratificação sensual.

Sexo é energia criativa!


*Grosseiramente traduzido como "o Sol interno", o Sahaja Maithuna é  considerado como o auspicio maior de todas as cerimônias tântricas. É a prática supra-sexual.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

II Encontro Pernambucano de Neopaganismo estremece solo nordestino



Entre os dias 12, 13 e 14 de Julho, no Centro Cultural Luiz Freire, em Olinda, Pernambuco se torna palco de um dos gritos do movimento pagão nordestino. O Encontro Pernambucano de Neopaganismo entra em sua segunda edição, prometendo trazer explosões de conhecimento e alegria em três dias de muitas atrações.


O evento conta com palestras, mesas-redondas e vivências sobre variados temas da policromia pagã no Brasil. Debates e explanações sobre os movimentos reconstrucionistas, xamânico e wiccan, bem como uma palestra abordando o Panteísmo compõem algumas das atrações desse ano. O evento é inteiramente gratuito e as inscrições podem ser feitas através do envio do formulário <http://migre.me/fhQqK> para o endereço: jose_polank@hotmail.com


Em sua primeira edição, no ano passado, o encontro contou com a presença de mais de 150 pessoas, vindas de diversos estados das regiões Norte e Nordeste. Venha fazer parte desse rugido que pretende estremecer o solo desse Leão do Norte.


Mais informações: encpenp.blogspot.com
                                 www.facebook.com/ENCPENP

Confira a programação

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Lança: O Deus Primordial no Egito Antigo (Parte 3)

Para ler a primeira parte desta história, clique aqui.
Para ler a segunda parte, clique aqui.

Então, pudemos observar que Atum era a potência de tudo o que poderia ver e que dessa forma Ele estava só e encerrado em si mesmo, até tornar-se a Luz e a Terra e dar o início da criação. Portanto, é de se esperar que Ele se sentisse só (Clark, s/d).

Além do mais, é preciso notar que Atum, mesmo tratado no masculino encerra as duas possibilidades masculino e feminino. Lembrem-se que Ele enseja em si o potencial de tudo aquilo que pode ser criado e que poderá vir a existir. E assim, entramos em mais uma face deste Deus (Clark, s/d).

Vejam bem,  um antigo texto funerário diz o seguinte:

"Ó tu que te elevaste em tua primeira aparição!
Ó tu que vieste a ser sob teu nome de Khopri,
Tu és aquele que afirmou: "Oxalá eu tenha um filho, para me purificar quando eu aparecer em meu poder, e me aclamar na terra pura*".
(Texto Funerári, in  Clark, s/d, p. 36)

E, sendo a mão e o pênis, Atum masturbar-se e do prazer da ejaculação nascem os irmãos Chu (Masculino) e Tefnut (Feminino), outro mito diz que Chu e Tefnut nasceu de um cuspe do Deus. E unindo, os dois mitos temos a parte concreta, física, o masturbar-se e, a parte abstrata, o cuspe presenta a palavra, o Verbo, o ar que passa pelas cordas vocais do criador dando assim forma. No entanto, a forma também precisa do Ka, a essência vital. E por isso, Atum abraçou suas crias e lhes soprou o Ka (Clark, s/d).

Ao criar Chu e Tefnut, O Deus Primordial criou o espaço, Chu, este era ao mesmo tempo Luz e Ar, como Luz é a vida manifesta, o calor, o fogo. E como Ar, é aquele que separa a Terra do Céu. É Chu quem sustenta a abóbada celeste, mais adiante, Chu transforma-se no Eterno, o mediador entre Atum e o resto da criação e Tefnut, torna-se Maat, a Ordem Côsmica (Clark, s/d). Neste ponto, talvez seja interessante compartilhar o Texto Funerário 80:

"Chu, o espírito de vida e eternidade, fala:

'Eu sou a Eternidade, o criador dos milhões,
que repete a cuspidura de Atum - o que proveio de sua boca -
Estendeu sua mão [para criar] o que desejava
Antes que a deixasse cair ao chão'
E Atum disse:
'Essa é minha filha, a fêmea vivente, Tefnut,
Que estará com seu irmão Chu.
Vida é o nome dele. Ordem, o dela.
Vivi com meus dois filhos, meus pequenos, um deles à minha frente, o outro atrás de mim.
A Vida repousava com minha filha Ordem.
Um dentro de mim; outro fora de mim.
Ergui-me acima deles, mas seus braços estavam ao meu redor'"
(Texto Funerário 80, in  Clark, s/d, p. 39)

A metáfora estende-se por todo o resto da vida egípcia: os Deuses sempre andam na frente, tendo por trás as Deusas, as lhe acompanhar e proteger.

Ao criar Chu e Tefnut, Atum dá forma ao seu aspecto masculino e feminino, no entanto, continuam mesclados e indiferenciados, pois, o Deus os abraça ternamente protegendo-os e soprando lhes o Ka. Mas, em algum momento, talvez ao receberem o Ka, Chu e Tefnut se perdem de Atum. Este pede ao seu olho, que vá procurá-los. O Olho de Atum é uma entidade separada do Deus, mas tarde será associado a Deusa Hathor, Deusa do amor. O fato é que o Olho encontra Chu e Tefnut e os trás de volta e a partir daí o ciclo de regeneração tem início (Clark, s/d).

Atum cansado pergunta ao Abismo como poderá ser criado a Terra, para que Ele possa ter onde descansar. O Abismo lhe responde para beijar sua filha, Tefnut, a Ordem Cósmica, enquanto obrigava Chu a levantá-lo.  O Deus Primordial surge então pelo Poder da Eternidade nos caminhos da Ordem Cósmica (Clark, s/d).

Vale aqui uma pausa para pensar: Atum aparece neste momento com três faces: O Olho, A Ordem e a Vida. O Olho representa sua onisciência  e onipresença apesar da distância que poderá vir a ter entre Ele e sua criação, como mais tarde será representado pela Deusa do Amor, poderemos captar uma mensagem sútil do Amor que está presente em todo ato de criação? Sua criação segue os princípios do Ka, a essência, ou o que podemos chamar de alma, Chu, e a Ordem Cósmica, Tefnut. Estas foram as formas que eles encontraram para explicar o assombro do que viviam perante a vida.

Atum, a Potência ainda a ser transformada, possuí dentro de si a essência que permite a  Vida e a Ordem pela qual sua criação deverá seguir.

Imaginem tudo como uma dança cósmica. Onde Chu e Tefnut contém e dão forma a massa indistinta de Potência que é Atum, a única coisa que é separado dessa forma e que perpassa as três energias em questão é O Olho, talvez, Aquele que dá o aval do que foi criado.

Até a semana que vem!

*Terra pura significa a Colina Primordial.

Referência Bibliográfica:

Clark, R. T. R.;Símbolos e Mitos do Antigo Egito: Deuses, mitos e cultos: Osíris, Néftis, Órus, Ísis, Seth. Apopis. Editora Hemus. p. 29 a 35.

 
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