quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Casal de bruxos se casa no Templo Casa Telucama (BA)

É o dia do casamento de Bálder e Héstia. Um a um, os bruxos entram no salão com incensos, cristais e cálices. Tudo é oferecido ao altar. Ao fundo, a sacerdotisa cuida do caldeirão. Num balé de dedos e labaredas, ela controla as chamas e sorri. Todos usam máscaras, mas a alegria se faz visível nos rostos dos iniciantes, com roupas brancas e coroas de flores, e também contamina os bruxos experientes, que usam preto e chapéus pontudos.

A união faz parte do Sabbath Beltane, ritual sagrado que aconteceu entre a noite de sábado (1) e a madrugada de domingo (2). O Dia das Bruxas, que virou festa, é inspirado em um desses Sabbaths: o Samhain. Ele anuncia a proximidade do Inverno no hemisfério Norte. Mas, do lado de cá do mundo, a roda do ano se inverte e o motivo da celebração que acontece entre a Primavera e o Verão é a fertilidade.

No grande salão, mais de 60 convidados estão sentados e observam o cortejo passar. "Somos um povo antigo, novo povo. Estamos vivos. A deusa está na Terra e a magia está no ar", avisa uma das músicas.

Depois que a maior parte das oferendas é feita, entra a Suma Sacerdotisa, Graça Azevedo, 66 anos. Vem de roxo, meia lua na testa e é olhada com admiração. Ela é a Senhora Telucama e criou o Templo Casa Telucama há 39 anos, em Lauro de Freitas. Graça vai casar os bruxos.
Os noivos Bálder, 34 anos, e Héstia, 32, sentam-se nas cadeiras e sorriem. Estão nervosos porque é o primeiro casamento que fazem dentro da religião. Esperam que seja o primeiro de muito.
 
BÊNÇÃOS
Graça toca o sino e a cerimônia começa. "O casal não jura amor eterno: fica junto enquanto a felicidade entre ambos for plena", diz a Senhora Telucama. Por isso o matrimônio é renovado a cada um ano e um dia. Antes de cada encontro, os dois podem decidir se querem mesmo continuar juntos ou não.

Durante a cerimônia, a Suma explica que, para a bruxaria, é essencial tratar os outros com respeito e amor. Depois, os noivos são transpassados por elos dourados e trocam palavras e alianças. "Que se cumpram as leis", diz Graça. Eles estão casados.

O casal recebe várias bênçãos. Na primeira delas, pulam juntos uma vassoura, para mostrar que podem superar os obstáculos unidos. Em seguida, uma chuva de arroz simboliza prosperidade e outra, de sementes, atrai fertilidade. Ao fim, debaixo de pétalas de rosas, saem do salão para o círculo onde o destino será tramado.







TRAMAS
O ritual começou às 22h e já é 1h da manhã. No círculo feito de concreto, a céu aberto, Bálder e Héstia se ajoelham e as sacerdotisas se sentam. Ao redor, os convidados, de pé, levantam dois dedos. Mulheres começam a prender nas mãos de todos linhas de cores diferentes. Em 10 minutos, os noivos e as bruxas estão sob um céu de fios multicoloridos. Eles tiram as máscaras, riem e comemoram.

Chega a hora do Maypole, ritual feito em um mastro cheio de fitas. A chuva começa a cair forte. Os bruxos trançam o Maypole e repetem: "Eu preciso de você. Você precisa de mim". Soa como mantra.

No final, felizes e ensopados, seguem para o banquete. Na mesa, Bálder conta que seu nome fora do Telucama é João Paulo Pereira e que trabalha como analista de sistemas. Já Héstia é Jamile knot, publicitária. Eles já são casados há nove anos. Foi ela quem levou o marido. Lá, encontraram o que a Suma Sacerdotisa chama de "família cósmica". "As pessoas aqui tratam umas às outras como irmãs. A bruxaria é uma mistura de arte, religião e ciência ", explica João Paulo.

Jamile e o marido ainda vão completar um ano de estudos no templo e o casamento é um estímulo para se dedicarem mais. "A gente sempre disse que ia se casar várias vezes e foi maravilhoso casar com ele de novo, principalmente dentro da nossa religião", alegra-se.

Fonte: Correio 24hs

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Entrevista com Odir Fontoura - Blogueiro e crítico pagão

O Jornal O Bruxo começa hoje uma série de entrevistas com diferentes representantes do movimento pagão no Brasil e no Mundo. Começamos essa série com o querido Odir Fontoura, 25, autor do blog Diannus do Nemi. A seriedade de seu trabalho e suas críticas ao movimento pagão fizeram dele uma das pessoas mais influentes do meio na web. Residente em Guaíba (RS), ele ainda atua como professor, historiador e com a leitura de Tarô.

Legenda:
- JOB: Jornal O Bruxo
- OF: Odir Fontoura


JOB: Como foi teu começo no Paganismo?

OF: Comecei a estudar o paganismo há cerca de nove anos atrás. Ainda estava no ensino médio e, de bobeira na internet, fui procurar imagens relacionadas a fantasmas, espíritos e assombrações. Sempre gostei de coisas do gênero. Fui testando diferentes palavras-chave na busca de imagens do Google, até que digitei "bruxaria". Não achei nada de assustador e, para minha surpresa, a "bruxaria" que descobri naquele momento nada tinha de macabro. Ao invés de pesquisar imagens, comecei a ler alguns textos, descobri a palavra "Wicca" e minha vida mudou para sempre desde então. Os anos se passaram, terminei a escola, comecei a fazer faculdade de História (estudei sobre as relações do paganismo e do cristianismo na Antiguidade Tardia), já terminei o curso e hoje estou no mestrado e já dou aulas. Dou palestras sobre o assunto, já escrevi um romance histórico tratando do tema, o "Sob o Sol já Deitado" e continuo trabalhando no meu blog, o "Diannus do Nemi - Artes e Paganismo" há cerca de sete anos.

JOB: E como foi começar a atuar no ativismo pagão?

OF: Depende do que você chama de ativismo... Eu prefiro falar em cidadania. Penso que todo pagão deveria repensar e exercitar o conceito de cidadania, principalmente levando em conta o que os povos antigos, como gregos e romanos, viam o assunto. A diferença é que se compararmos o mundo do séc. XXI com a sociedade ateniense, por exemplo, é importante que o conceito de “cidadão” deve ser ampliado a todas as pessoas possíveis, e não apenas a uma pequena elite culta. O meu papel "público" no paganismo é um trabalho intelectual, de reflexão e de debate de ideias. Tão importante quanto o trabalho daquele pagão, por exemplo, que sai nas ruas e levanta a bandeira da liberdade religiosa ou da preservação da natureza. São trabalhos que se complementam e uma coisa não acontece sem a outra. Acho que cada um tem a sua esfera de atuação pública e política e deveria exercitá-la constantemente e da melhor forma possível.

JOB: O seu blog, Diannus do Nemi, tomou uma projeção incrível, tornando-se uma das páginas de referência no meio pagão. Como começou esse trabalho e como foi o ver tomando tal proporção?

OF: O blog começou sem muitas ambições. Era pra ser algo pessoal: eu escrevia poesias e assuntos muito íntimos. Como muitos adolescentes, eu me utilizei da escrita como uma forma de expiação, de fuga, pra traduzir (na medida do possível) aqueles sentimentos que não podiam ser expressos senão pela arte. Mas o tempo passou, as visitas começaram a aumentar, meu perfil de escrita também se transformou e a coisa mudou de forma.
Quando eu passei a escrever só sobre o paganismo e minhas opiniões sobre isso, as visitas começaram a crescer absurdamente. Fiquei assustado, mas também excitado pela forma em que as coisas aconteceram. Até hoje, nada me deixa mais feliz do que receber, gratuitamente, e-mail de algum leitor agradecendo pelo que lê... O que é uma ironia, pois era eu quem deveria agradecer por tamanho carinho e por tantas coisas que aprendo com os comentários, sugestões ou compartilhamentos dos leitores.
Assumo que de uns meses pra cá o blog está meio parado, mas prometo que a situação nos próximos meses vai mudar (risos). Coisas novas vêm por aí.

JOB: Alguns dos textos tratados no seu blog são bem polêmicos e são conhecidos por não medirem palavras ao comentar sobre certos aspectos do cenário pagão. Como são as respostas a esses textos?

OF: Eu confesso que alguns desses textos são propositalmente provocativos. Existem algumas "feridas" do cenário pagão que eu faço questão de mexer: a insistência que muitos pagãos tem em “vilanizar” o cristianismo é uma dessas questões. O discurso das "bruxas ancestrais que foram sumariamente mortas nas fogueiras", por exemplo, além de estar recheado de preconceitos e equívocos históricos, é pobre, simplista e vitimista. O cristianismo prejudicou sim a continuidade das tradições pagãs, mas é uma relação de mão dupla. O que muitos esquecem é que, se não fossem muitos sábios cristãos, tão "malvados", muito da literatura ou da filosofia clássica, por exemplo, que cristianizada, não teria chegado até nós.
Outra questão polêmica é a da bruxaria como algo marginal. Todos sabem que, pra mim, bruxaria nunca foi religião. A bruxaria é um ofício historicamente marginal e periférico a todas as religiões, inclusive as cristãs. Se hoje as pessoas a veem como tal, o que considero legítimo, aí é outra história. O que não podemos é dar continuidade ao discurso Murray de um "culto" bruxo e pagão que sobreviveu desde a pré-história aos dias atuais. Crer nisso, pelo menos pra mim, é ingenuidade.
Mas respondendo a sua pergunta: as respostas a esses textos nem sempre são favoráveis.
O que é bom. O conhecimento é construído através do debate, do diálogo e da discussão (quando respeitosa). Esses debates são construtivos não só pra quem discute, mas pra quem, em silêncio, acompanha de fora e só lê descendo a barra de rolagem - como eu penso ser a maioria do público leitor. Eu gosto de polemizar. "Da água parada espere veneno" já dizia William Blake.

JOB: E como você responde a essas críticas? Seu blog vem abordando bastante as questões políticas, como isso tem repercutido?

OF: A ferramenta do blog não é propícia para debates. Você verá que as postagens geralmente têm poucos comentários, não é algo muito funcional. Mas as páginas de comunidades em redes sociais, como as do facebook sim. Então as pessoas tem o hábito de ler no blog e discutir nas comunidades. É lá que eu respondo. Independente se os leitores concordam ou discordam, é sempre muito positivo pelos motivos que falei acima.
Sobre as questões políticas, volto ao que falei sobre a cidadania. Pensar a política e pensar a sociedade é ser cidadão. E ser pagão é ser cidadão: é uma questão, inclusive, etimológica. É comumente aceito que paganismo vem do "pagus" ou "campo". Mas estudos recentes lançam a possibilidade de que "pagão" não é o que vem do "campo", mas o defensor da "terra", ou seja, "do lugar".
O pagão é quem preza, então, pelas tradições. Se o pagão se importa com o lugar, com a terra, ele se importa com a sua cidade, com seu estado, com seu país, com seu planeta.
Politicamente falando: o paganismo não pode mais esconder-se nos parques públicos, nas praias isoladas, ou nos nossos quartos durante a madrugada. Ele deve estar na urna eletrônica na hora do voto, na ponta da língua na hora de criticar a alienação do povo e em tanto outros momentos públicos, civis, sociais.

JOB: E como você enxerga esse público pagão?

OF: Posso ser honesto? O paganismo aqui no Brasil é constituído predominantemente de gente jovem. Mas muitos são jovens conservadores. Não só politicamente, mas espiritualmente também. Acho que as pessoas tem que ter coragem de colocar à prova suas crenças e seus argumentos. Não é feio se contradizer. Eu mesmo me "desminto" frequentemente, por algo que defendi no passado e já não creio mais. Todos sabem que eu tenho uma visão política de esquerda. Então acho que é possível equilibrar uma visões políticas “tradicionais” (no sentido de preservar o que é importante como, por exemplo, nossos recursos naturais ou os avanços democráticos que lentamente conquistamos) com visões políticas transformadoras (por exemplo: a convicção de que a sociedade deve ser menos desigual e menos repressora).

JOB: Em 2011, você publicou um romance-histórico bastante interessante que retrata a transição entre a sociedade pagã e cristã. Como repercutiu esse trabalho? Planejas publicar um próximo trabalho do gênero?

OF: O romance foi um experimento. Eu escrevi um conto com esse nome que repercutiu muito bem. Muitas pessoas comentaram e algumas ficaram muito emocionadas, o que me deixou muito feliz. Depois da resposta tão positiva do conto, desdobrei a ideia e escrevi o romance. Utilizei o conto, adaptado, como epílogo do livro. Recebi uma resposta bacana, mas hoje faria diferente. Penso que o livro ficou grande demais, e nem todos ainda tem o hábito de ler e-books. Penso em voltar a escrever ficção, mas se de fato fazê-lo, lançarei como livro físico. Essa é uma das ideias que está "germinando" aos poucos (risos). Pelo menos por enquanto eu estou focando mais no meu trabalho “profissional” de historiador.

JOB: Mas falando um pouco mais do movimento pagão, como você vê o cenário pagão do Rio Grande do Sul e do Brasil?

OF: Eu acho promissora. Em especial no Rio Grande do Sul, que é onde moro e tenho a oportunidade de acompanhar de perto. Aqui temos um grupo coeso e organizado, que é o pessoal do outrora chamado Coven Serpente de Fogo, liderado pelo Luís Gustavo Pereira. Os encontros são organizados, ininterruptamente, como já disse, há 10 anos: situação única em todo o Brasil. Eu não sei exatamente, mas parece que hoje esse grupo trabalha junto com o pessoal do Rosa dos Ventos Conclave de Bruxaria. De qualquer forma, o que o paganismo precisa é justamente disso: de pessoas organizadas, lúcidas, que disponham de tempo (e coragem) para organizar encontros, reuniões, rituais e debates com certa periodicidade. O paganismo ainda é muito virtual. E esses encontros pessoais são muito enriquecedores!
Outra lembrança que vale comentar é o pessoal do Og Sperle que organiza as passeatas em prol da liberdade religiosa. Já tive a oportunidade de ver a Mavesper Ceridwen discursando em Brasília sobre questões semelhantes. E tem muita gente boa por aí! Mas precisamos de mais gente.
O que mais vemos por aí são "líderes" ou "sacerdotes" que não fazem muito mais do que polemizar nas redes sociais com seus shows de ego: falam, falam, mas nunca dizem nada. Acho que falta isso: o paganismo precisa ter voz. Menos compartilhamento de fotos de fadinhas e gatinhos falantes com frases bonitinhas. Mais reflexão. Mais opinião. Mais encontros presenciais, mais debates cara-a-cara com leitura e embasamento.
E isso é muito importante: o paganismo precisa deixar pra trás sua face “esquisotérica”. Chega de fantasias, de lantejoulas, de extraterrestres e coisas do gênero. Precisamos sair do "plano das ideias", das viagens do History Channel e colocar em prática o que acreditamos, como seres políticos e sociais (e materiais, terrenos) que somos.

JOB: Então, finalizando a entrevista, qual o seu recado final para nossos leitores?

OF: Fica aqui o meu agradecimento e o meu reconhecimento a você, Douglas, pelo trabalho do Jornal "O Bruxo", desejo sucesso e parabenizo pela iniciativa! Aos leitores da entrevista, espero que tenham conseguido extrair algo de útil dessa conversa. Estou sempre aberto para críticas e sugestões. Vou terminar essa entrevista com a nossa saudação tradicional: Um feliz encontro para um feliz reencontro! Abençoados sejam.


sábado, 22 de novembro de 2014

Indígena acusada de bruxaria é queimada viva no Paraguai

Uma mulher indígena acusada de praticar bruxaria e foi atingida por flechas e queimada viva em seguida por membros da etnia Guarani-Mbya em uma aldeia no norte do Paraguai.
Segundo as autoridades locais, Adolfina Ocampos, de 45 anos, foi sentenciada à morte pelo cacique da comunidade Tahehyí, que fica 290 km ao norte de Assunção, na semana passada.
A mulher foi amarrada e ferida com flechas de madeira. Ainda viva, foi queimada em uma fossa com lenha incendiada.
A polícia local indiciou nove homens da aldeia por homicídio doloso e privação ilegítima de liberdade. Eles admitiram o crime, segundo a polícia.
A agência estatal de proteção aos povos de origem emitiu um comunicado na qual esclarece que “apesar de os indígenas serem regidos pelo direito consuetudinário, suas ações não podem violar as garantias constitucionais de respeito à vida e à liberdade das pessoas.”
Fonte: G1

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Bruxos em Campo Grande ainda sofrem com preconceito e maioria ainda vive no "armário das vassouras"

Não que isso seja uma exclusividade da capital sul-mato-grossense, mas, em Campo Grande, os poucos bruxos que vivem por aqui sofrem com o preconceito e, por isso, a grande maioria (leia-se 100 ou, no máximo, 120 pessoas), vive no “armário das vassouras”.
“Costumam se esconder. Quando perguntam 'qual é sua religião?' eles respondem: 'Então, eu não sigo nenhuma'. Era o que eu falava”. Quem diz isso é a professora de literatura Elizabeth Bomfim, de 32 anos, que, por muito tempo, foi espiritista, mas deixou de lado a doutrina kardecista para se dedicar à Wicca, a religião dos bruxos e das bruxas.

O amigo, o cabeleireiro Davi Vieira, de 29 anos, que se apresenta como Manrick, usava desculpas parecidas quando também se escondia. Ele é bruxo assumido há 2 anos, mas estuda a religião há 7.
Deixar o “armário” foi difícil, mas, para ele, a decisão foi a mais acertada, apesar dos comentários que teve de ouvir depois. “As pessoas tem muito preconceito. Eu vivia entre o evangelho, a Umbanda e a Wicca. Quando eu falei “vou ser Wicca” muitos falaram: você é maluco? Vai adorar o capeta? Eu falei: Não é o capeta. É o Cernunnus e ele é um deus. Tem essa confusão mesmo”.
É mais que confusão. É Preconceito. Intolerância religiosa, pontua Elizabeth. Por três anos, a professora foi uma seguidora solitária da Wicca. Estudava em casa, sozinha. Só a filha e o marido sabiam. Mas, há dois anos, ela decidiu assumir a crença e encontrou outros wiccanianos no caminho.
Os dois reclamam do preconceito e dizem que vivem em uma verdadeira militância religiosa para disseminar informações corretas. (Foto: Alcides Neto)
Os dois reclamam do preconceito e dizem que vivem em uma verdadeira militância religiosa para disseminar informações corretas. (Foto: Alcides Neto)
Hoje, a mulher, que integra uma minoria na cidade, faz parte de um grupo composto por 10 pessoas que se reúnem, uma vez por mês, para reuniões e celebrações em Campo Grande. Esses são os “assumidos”, brinca.
Os que ainda estão no “armário das vassouras” somam mais de 100. A maioria não assume a crença por conta do preconceito mesmo, reforça. A professora, ao contrário, faz questão de mostrar o rosto e falar a respeito porque tem esse direito e luta para desmistificar os diversos mal entendidos espalhados ao longo de anos.
É quase uma militância. Quem critica, diz, é porque não conhece e, provavelmente, nunca parou, sequer, para pesquisar o assunto. É mais fácil atirar pedras e acreditar no que dizem do que procurar saber a verdade.
O que é - ? “A Wicca é uma religião que se firmou por volta da década de 50, quando Gerald Gardner, um bruxo europeu, começou a pesquisar como eram feitas as cerimônias pagãs. Ele foi iniciado por um coven (grupo de bruxos), que mantinham tradições de forma secreta porque, naquela época, as bruxas eram queimadas na fogueira e tinham que se esconder para permanecer com suas crenças e práticas. Esse povo continuou até 1950, quando ele descobriu tudo. Foi ele quem denominou Wicca, mas Wicca seria o resgate de toda essa cultura ancestral, de antes de Cristo, diz.
Pela definição da UWB (União Wicca do Brasil), a Wiicca é uma religião neopagã, mítica, politeísta, iniciática, de culto dualista e orientação matrifocal. Traduzindo: é uma religião baseada em um sistema mitológico, onde se cultua os deuses da natureza e seus fenômenos.
Religião é cheia de símbolos. (Foto: Alcides Neto)
Religião é cheia de símbolos. (Foto: Alcides Neto)
É politeísta porque é uma crença que cultua vários deuses, e não um todo-poderoso. É iniciática porque, para se tornar membro, é necessário passar por ritos e um período de preparação. É dualista porque prega que, dentro de tudo que existe no universo, existem forças opostas e complementares, como luz e trevas, masculino e feminino.
A orientação matrifocal remete ao matriarcado, estrutura social onde a mulher tem papel de destaque na liderança familiar e religiosa. O feminino era reverenciado nas antigas civilizações e, na religião Wiica, isso é regra.
“Estamos muito acostumados com as religiões patriarcais, as religiões cristãs, que falam de um único Deus, masculino. A Wicca é a religião da Deusa. Vem falar que também existem um princípio feminino, mas, claro, também reconhecemos o masculino. A religião visa o equilíbrio entre os dois e não a supremacia”, esclarece Elizabeth.
A Deusa, a Grande Mãe, tem muitos nomes. “Aí que entra a confusão da religião, porque você pode adotar um panteão (conjunto de deuses) ou não. Essa deusa pode ser apenas um arquétipo (um símbolo, por exemplo)”.
Elizabeth mostra texto que leu no ritual de autoiniciação. (Foto: Alcides Neto)
Elizabeth mostra texto que leu no ritual de autoiniciação. (Foto: Alcides Neto)
O Deus, como já foi dito, também pode ser vários, mas o Cernunnos, geralmente representado por um homem de barba, com chifres, é um dos mais reverenciados. “Foi a partir dele, esse Deus de chifres, que começaram a falar que os bruxos cultuavam o demônio, sendo que nós não cultuamos o demônio. Ele é um Deus celta, um Deus da natureza”, esclarece.
Esteriótipo e verdade - Infelizmente essa imagem ficou. Foi fortalecida pela “propaganda” da igreja, se arrasta já por centenas de anos e, hoje, chega em forma de preconceito, mesmo que velado.
“Transformaram em uma coisa do mal. E aí ficou o esteriótipo da bruxa e do bruxo, que é aquela pessoa feia, de verruga no nariz, que faz maldades. A realidade é que somos pessoas que gostam da natureza, de estar em contato com ela e que a respeita. Não existe isso de fazer mal as pessoas. Essa é a parte da religião que é totalmente deturpada”.
O nomenclatura bruxo ou bruxa remente às produções cinematográficas e causa, por si só, espanto, mas a origem da palavra, segundo Elizabeth, remete ao inglês arcaico e significa “aquele que molda, que sabe, pessoa sábia, homem ou mulher”. “Por isso que a gente não liga quando falam. Para nós não tem conotação pejorativa”, diz.
Os seguidores da Wicca, além de cultuarem vários deuses, seguem rituais específicos, como os Sabbaths, festivais do Sol, que marcam as estações do ano. O próximo, denominado Beltaine, acontece no dia 31 de outubro e celebra a entrada do verão.
“A gente comemora a fertilidade, o período em que a terra volta a ficar fértil”. Em ritos como esse, são comuns fogueiras, músicas, danças, oferendas e invocação aos deuses.
Nesses encontros os wiccanianos aparecem, geralmente, de preto. É a cor do útero da Deusa, explica Elizabeth. É, também, a do caldeirão, que representa o útero da mãe.
Símbolos e dogmas - A religião Wicca é cheia de símbolos. Tem a vassoura, para limpeza astral, a colher de pau, condutora de energia, e o principal deles: o pentagrama, que simboliza os cinco elementos: “fogo, terra, água, ar e o espírito”, elenca.
Altar, sem o caldeirão. (Foto: Alcides Neto)
Altar, sem o caldeirão. (Foto: Alcides Neto)
Deus Cernunnos. (Foto: Alcides Neto)
Deus Cernunnos. (Foto: Alcides Neto)
Vela é outro item essencial. (Foto: Alcides Neto)
Vela é outro item essencial. (Foto: Alcides Neto)
Existem feitiços? Existem, mas os trabalhos são feitos para atrair coisas boas, garante. “Prosperidade, saúde, sabedoria, exemplifica”, ao comentar um dos pouquíssimos dogmas da religião: “Tudo o que você faz volta para você três vezes. Não praticamos o mal porque sabemos que, se fizermos isso, ele volta. Isso é uma lei ética”.
A Wicca tem metas, mas não um livro sagrado. “Cada um faz o seu. Chama Livro das Sombras. É onde você anota todos os seus feitiços, intuições, sonhos...” Um fato interessante, dentre vários que chamam a atenção, é que a os adeptos da religião não fazem proselitismo religioso.
“Quem quer aprender vem. Estamos sempre nos reunindo, mas ficar pregando, falando que tem que amar a Deusa, jamais”, finaliza Elizabeth. Interessados podem obter mais informações no Facebook, na comunidade Wicca de Campo Grande.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O Paganismo e a tradição dos nomes russos


A tradição dos nomes russos A tradição de dar apelidos se formou na Rússia ainda na era pré-cristã. Qualquer palavra associada com usos e costumes, hábitos, aparência física ou meio ambiente podia se transformar em nome. Nomes numéricos chegaram a ficar na moda: Piérvi (primeiro), Vtorak (segundo), Tretiák (terceiro), pela ordem de nascimento. Traços físicos também: Beliák (de branco, branquelo), Malhuta (pessoa pequena), além de nomes relacionados com traços do caráter –Moltchân (calado), Smeiâna (risonha), Istoma (lânguido), com a natureza –Bik (touro), Chuka (lúcio), Dub (carvalho)– ou com ofícios no geral –Lôjka (colher), Kuznéts (ferreiro), Chuba (casaco de peles).

Com o tempo, os apelidos podiam ser substituídos por outros que se tornavam mais apropriados.
A fim de evitar a influência nociva dos espíritos ruins ou de outros indivíduos, as pessoas recebiam muitas vezes um nome que descrevia um defeito seu, não raras vezes fictício: Nekrás (feio), Zloba (raivoso), Kriv (vesgo de um olho só). Segundo a crença popular, um nome despretensioso assim protegia o seu dono do mau-olhado e de pragas. Era a lógica do princípio "do contrário": se você já é chamado de vesgo não ficará mais vesgo.

Sob o signo de dois nomes

Depois de surgirem os nomes cristãos na Rússia, os apelidos não desapareceram, mas antes se tornaram um complemento do nome principal. Eles eram usados ​​tanto no meio da classe baixa, como entre as pessoas mais nobres: o grande líder militar Aleksandr Névski (Neva), o educador e poeta Semion Polótski (Polotsk) e o príncipe moscovita Ivan Kalita (Kalita). Os nomes "apelidados” estiveram em uso até serem proibidos por Pedro 1º. Mas já a partir do século 15 eles começaram a ser transformados em sobrenome.
Entre os séculos 14 e 16 era tradição na Rússia dar à criança, no momento do nascimento, o chamado nome direto, em honra do santo que fosse homenageado nesse dia. Ao contrário do nome público, o nome direto era usado no círculo íntimo da família e dos amigos. Assim, o czar Vassíli 3º usava o nome direto de Gavriil e seu filho, Ivan, o Terrível, era conhecido como Tit. Às vezes surgiam situações paradoxais: podia acontecer de dois irmãos serem homônimos absolutos, tendo ambos o mesmo nome público e o mesmo nome direto. O filho mais velho e o filho mais novo de Ivan, o Terrível, tinham ambos o nome público de Dmítri, enquanto no círculo dos mais chegados eram conhecidos por Uar.
A tradição do nome direto tem a sua origem na linhagem dos Rurik, os grandes príncipes dessa dinastia que governou a Rússia antes dos Romanov e que usava tanto nomes pagãos, como nomes cristãos: Iaroslav-Guiórgui (Múdri) ou Vladímir-Vassíli (Monomakh).
Na dinastia Rurik havia duas categorias de nomes: os nomes eslavos, que eram compostos por duas partes –Iaropolk (Iaro-polk; Iar, "calor"), Sviatoslav, Ostromir– e os nomes escandinavos –Olga, Gleb, Ígor. Apenas os nobres tinham nome. Somente no século 14 é que os nomes se tornam de uso comum. Curiosamente, o nome da linhagem não podia ficar livre: se morria o avô, o seu nome era dado ao neto recém-nascido, no entanto, não se permitia dois irmãos-xarás ao mesmo tempo.
Com o fortalecimento do cristianismo na Rússia, os nomes eslavos começaram a se tornar coisa do passado. Havia até mesmo uma lista de nomes banidos e particular interdição recaía sobre os nomes associados com o paganismo, como era o caso de Iarilo ou Lada. Também a linhagem dos Rurik acabou por ter que ir recusando gradualmente as preferências dinásticas em favor de nomes cristãos. Já Vladímir Sviatoslavitch recebeu o nome de Vassíli no batismo e a grã-duquesa Olga, o nome de Elena.
Fonte: Gazeta Russa

domingo, 16 de novembro de 2014

Caça às bruxas na Tanzânia mata 500 pessoas por ano


Caça às bruxas na Tanzânia mata 500 pessoas por anoEmbora a maioria da população da Tanzânia seja cristã, a bruxaria na forma de rituais de invocação de espíritos e forças da natureza, ainda é muito comum. De acordo com o Centro de Leis e Direitos Humanos do país, anualmente ocorrem em média 500 mortes violentas por causa dessa prática. Perto de três mil mulheres foram linchadas entre 2005 e 2011.
No mês passado, sete mulheres foram queimadas vivas na região de Kigoma. Cinco delas tinham mais de 60 anos. Elas foram atacadas por um grupo de homens armados que as agrediram e depois as queimaram. Há registros de casos que incluem decapitações e esquartejamentos.

As denúncias sobre o aumento de assassinatos dos acusados de bruxaria já chegaram até as Nações Unidas. Em 2012, foram 630. Crescendo para 765 em 2013. Cerca de dois terços são mulheres. Para Maia Green, antropóloga da Universidade de Massachusetts, que fez sua tese de doutorado sobre a situação na Tanzânia, a origem da perseguição está no ensinamento de cristãos e muçulmanos, as religiões mais numerosas do país. Ambas associam a prática da bruxaria com a adoração a espíritos malignos (demônios).

Sobretudo na zona rural, toda vez que acontece algo inexplicável (doenças, acidentes, secas ou safra ruim) a culpa recais sobre as pessoas que reconhecidamente realizam rituais. Muitos são curandeiros e acabam sendo perseguidos pelos moradores que em algum momento já recorreram a seus serviços.

O problema é antigo. O governo aprovou uma Lei de Bruxaria em 1982, na tentativa de evitar a perseguição e morte dos seus praticantes. Porém, muitos especialistas afirmam que isso só reforçou a ideia de que a bruxaria é “indesejável”, sendo necessário “castigar quem a pratica”.

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Hostgator Discount Code