quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Casal de bruxos se casa no Templo Casa Telucama (BA)

É o dia do casamento de Bálder e Héstia. Um a um, os bruxos entram no salão com incensos, cristais e cálices. Tudo é oferecido ao altar. Ao fundo, a sacerdotisa cuida do caldeirão. Num balé de dedos e labaredas, ela controla as chamas e sorri. Todos usam máscaras, mas a alegria se faz visível nos rostos dos iniciantes, com roupas brancas e coroas de flores, e também contamina os bruxos experientes, que usam preto e chapéus pontudos.

A união faz parte do Sabbath Beltane, ritual sagrado que aconteceu entre a noite de sábado (1) e a madrugada de domingo (2). O Dia das Bruxas, que virou festa, é inspirado em um desses Sabbaths: o Samhain. Ele anuncia a proximidade do Inverno no hemisfério Norte. Mas, do lado de cá do mundo, a roda do ano se inverte e o motivo da celebração que acontece entre a Primavera e o Verão é a fertilidade.

No grande salão, mais de 60 convidados estão sentados e observam o cortejo passar. "Somos um povo antigo, novo povo. Estamos vivos. A deusa está na Terra e a magia está no ar", avisa uma das músicas.

Depois que a maior parte das oferendas é feita, entra a Suma Sacerdotisa, Graça Azevedo, 66 anos. Vem de roxo, meia lua na testa e é olhada com admiração. Ela é a Senhora Telucama e criou o Templo Casa Telucama há 39 anos, em Lauro de Freitas. Graça vai casar os bruxos.
Os noivos Bálder, 34 anos, e Héstia, 32, sentam-se nas cadeiras e sorriem. Estão nervosos porque é o primeiro casamento que fazem dentro da religião. Esperam que seja o primeiro de muito.
 
BÊNÇÃOS
Graça toca o sino e a cerimônia começa. "O casal não jura amor eterno: fica junto enquanto a felicidade entre ambos for plena", diz a Senhora Telucama. Por isso o matrimônio é renovado a cada um ano e um dia. Antes de cada encontro, os dois podem decidir se querem mesmo continuar juntos ou não.

Durante a cerimônia, a Suma explica que, para a bruxaria, é essencial tratar os outros com respeito e amor. Depois, os noivos são transpassados por elos dourados e trocam palavras e alianças. "Que se cumpram as leis", diz Graça. Eles estão casados.

O casal recebe várias bênçãos. Na primeira delas, pulam juntos uma vassoura, para mostrar que podem superar os obstáculos unidos. Em seguida, uma chuva de arroz simboliza prosperidade e outra, de sementes, atrai fertilidade. Ao fim, debaixo de pétalas de rosas, saem do salão para o círculo onde o destino será tramado.







TRAMAS
O ritual começou às 22h e já é 1h da manhã. No círculo feito de concreto, a céu aberto, Bálder e Héstia se ajoelham e as sacerdotisas se sentam. Ao redor, os convidados, de pé, levantam dois dedos. Mulheres começam a prender nas mãos de todos linhas de cores diferentes. Em 10 minutos, os noivos e as bruxas estão sob um céu de fios multicoloridos. Eles tiram as máscaras, riem e comemoram.

Chega a hora do Maypole, ritual feito em um mastro cheio de fitas. A chuva começa a cair forte. Os bruxos trançam o Maypole e repetem: "Eu preciso de você. Você precisa de mim". Soa como mantra.

No final, felizes e ensopados, seguem para o banquete. Na mesa, Bálder conta que seu nome fora do Telucama é João Paulo Pereira e que trabalha como analista de sistemas. Já Héstia é Jamile knot, publicitária. Eles já são casados há nove anos. Foi ela quem levou o marido. Lá, encontraram o que a Suma Sacerdotisa chama de "família cósmica". "As pessoas aqui tratam umas às outras como irmãs. A bruxaria é uma mistura de arte, religião e ciência ", explica João Paulo.

Jamile e o marido ainda vão completar um ano de estudos no templo e o casamento é um estímulo para se dedicarem mais. "A gente sempre disse que ia se casar várias vezes e foi maravilhoso casar com ele de novo, principalmente dentro da nossa religião", alegra-se.

Fonte: Correio 24hs

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