sábado, 25 de dezembro de 2010

Deusa Vesta


Na antiguidade, fazer fogo nem sempre era fácil, e por isso a manutenção da chama - principal elemento do culto a Vesta - revestia-se de grande importância. Segundo a tradição, o fogo sagrado foi trazido de Tróia por Enéias, lendário herói grego, e preservado no santuário dedicado à deusa, em Roma. Neste recinto não havia imagem alguma da divindade, que era representada inteiramente pelo fogo, sendo este velado por seis sacerdotisas virgens chamadas vestais, encarregadas de mantê-lo sempre aceso. A deusa romana Vesta, protetora dos lares, identificava-se com a grega Héstia, e era mostrada nas pinturas inteiramente vestida, acompanhada, às vezes, de um asno. Seu culto era o mais antigo da religião romana e o que mais resistiu à influência cristã.

As vestais presidiam a Vestália, festival anual realizado entre 7 e 15 do mês de junho. No último dia dessa celebração fazia-se a limpeza ritual do santuário, e os maus augúrios só terminavam quando todo o lixo era depositado em um local especial, ou lançado no rio Tibre. As candidatas a sacerdotisas deviam ser filhas de pais livres e respeitáveis e não apresentarem nenhum defeito físico ou mental. Elas se iniciavam nos segredos da atividade religiosa entre os seis e dez anos de idade, e permaneciam a serviço da deusa durante trinta anos, período em que eram obrigadas a manter a virgindade. Além de zelar pelo fogo, as sacerdotisas deviam também preparar os alimentos sagrados e cuidar da limpeza e dos objetos do santuário, sendo castigadas fisicamente caso descumprissem essas obrigações. Penalidade mais severa era imposta às que porventura violassem o voto de castidade, pois nesse caso as infratoras eram condenadas à morte, ou então enterradas vivas.

As vestais desfrutavam de grande prestígio e inúmeros privilégios durante sua atividade, e embora pudessem se casar ao final dos trinta anos de sacerdócio, isso raramente acontecia porque o casamento com qualquer uma delas era considerado ato que atraía o infortúnio e a má sorte. Submetiam-se apenas ao colégio de pontífices, e em suas mãos eram depostos os maiores segredos, tanto particulares quanto de estado. As suas vestes eram de grande simplicidade, mas elegantes. Por cima do vestido branco que usavam colocavam um manto de cor púrpura que escondia uma de suas espáduas, deixando a outra desnuda.

O santuário de Vesta situava-se no Forum, perto da Regia, antigo palácio dos reis romanos, e seu formato circular lembrava as primitivas cabanas italianas. Somente as vestais tinham livre acesso a seu núcleo, mas uma vez por ano, durante a Vestália, as mulheres casadas podiam visitá-lo, razão pela qual, na época de Augustus, construiu-se diante do templo o Atrium Vestae, uma espécie de vestíbulo de recepção.

Os mitólogos lembram que não se deve confundir a antiga Vesta, isto é, a Terra ou Titéia, mulher de Urano, com a virgem Vesta, deusa do fogo ou o próprio fogo, mas isso é muito freqüente. Vesta, deusa do fogo, tinha um culto que remontava a mais alta antiguidade. Os gregos iniciavam e finalizavam todos os seus sacrifícios adorando-a, invocando-a antes de todos os outros deuses. Em Corinto havia um tempo consagrado a ela, mas desprovido de estátuas, vendo-se apenas, no centro do mesmo, um altar para os sacrifícios celebrados em sua honra. Seu culto consistia principalmente em alimentar o fogo que lhe era consagrado, para impedir que se apagasse.

Numa Pompílio (715-673 a.C.), segundo rei de Roma, fez construir para ela um templo em forma de globo, imagem do universo. Era no meio desse templo que se alimentava o fogo sagrado, visto como o penhor do império do mundo. Ele era renovado todos os anos, no dia primeiro de março, mas se por qualquer motivo se apagasse, só poderia ser ateado pelos raios do Sol, por meio de uma espécie de espelho. Quase mil anos depois, o imperador Graciano, que reinou de 367 a 378 da era cristã, iniciou as hostilidades ao culto da deusa, que foi oficialmente proibido por seu sucessor Teodósio. Em razão disso, no ano de 394, o fogo de Vesta se apagou para sempre, e com isso a lembrança da deusa também desapareceu da memória dos povos que antes a haviam reverenciado.

[Texto de Fernando Kitzinger Dannemann]

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