quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O Paganismo e a tradição dos nomes russos


A tradição dos nomes russos A tradição de dar apelidos se formou na Rússia ainda na era pré-cristã. Qualquer palavra associada com usos e costumes, hábitos, aparência física ou meio ambiente podia se transformar em nome. Nomes numéricos chegaram a ficar na moda: Piérvi (primeiro), Vtorak (segundo), Tretiák (terceiro), pela ordem de nascimento. Traços físicos também: Beliák (de branco, branquelo), Malhuta (pessoa pequena), além de nomes relacionados com traços do caráter –Moltchân (calado), Smeiâna (risonha), Istoma (lânguido), com a natureza –Bik (touro), Chuka (lúcio), Dub (carvalho)– ou com ofícios no geral –Lôjka (colher), Kuznéts (ferreiro), Chuba (casaco de peles).

Com o tempo, os apelidos podiam ser substituídos por outros que se tornavam mais apropriados.
A fim de evitar a influência nociva dos espíritos ruins ou de outros indivíduos, as pessoas recebiam muitas vezes um nome que descrevia um defeito seu, não raras vezes fictício: Nekrás (feio), Zloba (raivoso), Kriv (vesgo de um olho só). Segundo a crença popular, um nome despretensioso assim protegia o seu dono do mau-olhado e de pragas. Era a lógica do princípio "do contrário": se você já é chamado de vesgo não ficará mais vesgo.

Sob o signo de dois nomes

Depois de surgirem os nomes cristãos na Rússia, os apelidos não desapareceram, mas antes se tornaram um complemento do nome principal. Eles eram usados ​​tanto no meio da classe baixa, como entre as pessoas mais nobres: o grande líder militar Aleksandr Névski (Neva), o educador e poeta Semion Polótski (Polotsk) e o príncipe moscovita Ivan Kalita (Kalita). Os nomes "apelidados” estiveram em uso até serem proibidos por Pedro 1º. Mas já a partir do século 15 eles começaram a ser transformados em sobrenome.
Entre os séculos 14 e 16 era tradição na Rússia dar à criança, no momento do nascimento, o chamado nome direto, em honra do santo que fosse homenageado nesse dia. Ao contrário do nome público, o nome direto era usado no círculo íntimo da família e dos amigos. Assim, o czar Vassíli 3º usava o nome direto de Gavriil e seu filho, Ivan, o Terrível, era conhecido como Tit. Às vezes surgiam situações paradoxais: podia acontecer de dois irmãos serem homônimos absolutos, tendo ambos o mesmo nome público e o mesmo nome direto. O filho mais velho e o filho mais novo de Ivan, o Terrível, tinham ambos o nome público de Dmítri, enquanto no círculo dos mais chegados eram conhecidos por Uar.
A tradição do nome direto tem a sua origem na linhagem dos Rurik, os grandes príncipes dessa dinastia que governou a Rússia antes dos Romanov e que usava tanto nomes pagãos, como nomes cristãos: Iaroslav-Guiórgui (Múdri) ou Vladímir-Vassíli (Monomakh).
Na dinastia Rurik havia duas categorias de nomes: os nomes eslavos, que eram compostos por duas partes –Iaropolk (Iaro-polk; Iar, "calor"), Sviatoslav, Ostromir– e os nomes escandinavos –Olga, Gleb, Ígor. Apenas os nobres tinham nome. Somente no século 14 é que os nomes se tornam de uso comum. Curiosamente, o nome da linhagem não podia ficar livre: se morria o avô, o seu nome era dado ao neto recém-nascido, no entanto, não se permitia dois irmãos-xarás ao mesmo tempo.
Com o fortalecimento do cristianismo na Rússia, os nomes eslavos começaram a se tornar coisa do passado. Havia até mesmo uma lista de nomes banidos e particular interdição recaía sobre os nomes associados com o paganismo, como era o caso de Iarilo ou Lada. Também a linhagem dos Rurik acabou por ter que ir recusando gradualmente as preferências dinásticas em favor de nomes cristãos. Já Vladímir Sviatoslavitch recebeu o nome de Vassíli no batismo e a grã-duquesa Olga, o nome de Elena.
Fonte: Gazeta Russa

1 comentários:

Andréa Caselli disse...

Muito legal Douglas. Temos poucos estudos publicados sobre paganismo russo .Parabéns pela pesquisa.

 
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