A Noite das Lamentações, o derramento das lágrimas de Ísis que é o que dá início às cheias do Nilo foi uma pequena parte da história que vimos na semana anterior.
Osíris foi assassinado no vigésimo oitavo ano do seu reinado, e alguns afirmam que esta era a sua idade.
Ísis perguntou para as crianças e as pessoas que moravam nas margens do Nilo se haviam visto o ataúde com o corpo de Osíris. Algumas crianças contaram para ela o nome da foz do rio, e ela seguiu por este caminho até que ouviu dizer que o ataúde havia sido levado pelo mar até a terra de Biblos. O ataúde havia sido docilmente deixado pelas águas do mar no meio de uma moita de urze, que cresceu em pouco tempo e cobriu toda a arca. O rei daquela terra vendo aquela planta tão frondosa quis tê-la em seu palácio, e cortou exatamente o pedaço em que o ataúde estava escondido, transformando este pedaço em um pilar que sustentava o telhado de seu palácio.
Ísis soube disso tudo através da inspiração divina de Rumor, e seguiu seu caminho até a cidade de Biblos. Contam que em suas andanças, Ísis foi protegida pela Deusa Selkis, a Deusa dos escorpiões que apiedou-se da Deusa Ísis e ofereceu nove escorpiões para protege-la. Certa noite Ísis pediu abrigo, sendo maltratada pela mulher da casa que não reconheceu em seu semblante transtornado a Deusa que ela era. Os escorpiões então picaram um dos filhos da mulher que ficou desesperada, e Ísis compadecendo-se do tormento pelo qual a outra passava e conhecendo a dor da perda, decidiu parar o veneno do escorpião e devolver a vida a esta criança. A mãe ficou maravilhada e pediu desculpas ao reconhecer a Deusa.
Ísis prosseguiu sua jornada até chegar em Biblos, sentou-se junto a uma nascente e se pôs a chorar novamente. Sentia-se traída e não confiava mais em ninguém. Não conversou com ninguém, exceto as servas da rainha que falavam sobre a maravilhosa madeira que agora estava no palácio. Ísis trançou os cabelos destas servas, deu-lhe fragrâncias tiradas do seu próprio corpo, mas ninguém a reconheceu. A rainha em dado momento foi estar com suas servas, e ao ver Ísis foi tomada por tal anseio que não conseguiu desprender os olhos da mulher. O nome da rainha, dizem alguns, era Astarte.
Astarte chamou pela desconhecida e ofereceu aos seus cuidados o seu filho mais novo, Isís prontamente aceitou, pois só assim estaria perto do seu amado. Por isso dizem que Ísis amamentou a criança oferecendo o seu dedo em vez de seu seio, e que toda noite queimava as porções mortais do corpo do bebê, para assim dar-lhe a dádiva da imortalidade. Enquanto a criança queimava no fogo restaurador, Ísis transformava-se em andorinha e lamentava em prantos dando voltas em torno do pilar. Um belo dia no entanto, Astarte entrou no quarto e viu o seu bebê coberto em chamas e se colocou a gritar desesperada, retirando a criança do meio das chamas e privando-a assim da imortalidade. Ísis então se revelou e pediu o pilar que servia de suporte ao telhado. Astarte ao reconhecer a Deusa, compadeceu-se de seu sofrimento e deu-lhe de bom grado o pilar. Ísis com facilidade cortou o pedaço da madeira que cercava o ataúde e logo após envolveu a madeira em um tecido de linho e derramou perfume sobre ela, deixando o resto da madeira aos cuidados dos reis. Ao ver o ataúde, Ísis jogou-se em cima dele em prantos e deu um grito tão horrível que o filho mais novo do rei morreu na mesma hora. O filho mais velho então pediu para partir com ela, e assim partiu com a Deusa, que colocou o ataúde num barco e deixou aquele país.
Ao conseguir privacidade, Ísis abriu o ataúde e encostou o seu rosto quente no rosto frio de Osíris, acariciou aquele rosto que tantas vezes disse que amava e chorou docemente. A criança aproximou-se para ver o que havia dentro da arca e olhava para a Deusa sendo inocente expectadora daquela dor. A Deusa ao perceber a intromissão em seu momento íntimo olhou para a criança com tal fúria, que esta não resistindo olhar o rosto transfigurado da Deusa morreu no mesmo instante, caindo no mar. A Deusa logo se arrependeu do destino trágico do garoto e ordenou que ele seria honrado.
Ísis tornou a olhar para Osíris, e entre lágrimas nos olhos pediu ao seu amado que voltasse para ela. Beijou-lhe os lábios e assim soprou um pouco de vida para dentro do corpo inerte de Osíris. Ao notar que seu amado respondia pouco a pouco, resolveu esconder seu corpo e ir buscar a ajuda de Néftis e Anúbis para terminar de realizar os ritos que trariam Osíris de volta a vida.
Nesta parte a história ganha duas versões. Alguns dizem que Ísis concebeu Hórus neste pedaço da história. Outros dizem, que foi mais a frente. E segundo Plutarco, Ísis levou o ataúde até onde estava seu filho Hórus que era criado por Buto, e colocou a arca em um local escondido. Ísis deixou a arca escondida e tornou a sair para pedir ajuda a Néftis e Anúbis.
No entanto, Seth caçava por ali e acabou por achar o esconderijo do ataúde. Ao ver Osíris com um sopro de vida ficou com tanta raiva que desmembrou o corpo do seu irmão em 14 pedaços, espalhando-os pelo rio Nilo.
Ps.: Tenho que terminar por aqui, mas semana que vem contarei o final da história. Beijos estalados na bochecha de todos!
Bibliografia Consultada:
- ELLIS, N.; Deusas e Deuses Egípcios: Festivais de Luzes: Celebrações para as estaões da vida baseadas nos mistérios das deusas egípcias. São Paulo: Mandras, 2003;
- DONATELLI, M. (coord.); O livro das Deusas – Grupo Rodas da Lua. São Paulo: Publifolha, 2005;
- IONS, V.; História ilustrada da Mitologia. 1° Ed., São Paulo: Editora Manole Ltda, 1999; - MARASHINSKY, A. S.; O oráculo da Deusa: um novo método de adivinhação. São Paulo: Pensamento, 2007;
- MONAGHAN, P.; O caminho da Deusa: mitos, invocações e rituais. São Paulo: Pensamento, 2009.
- IONS, V.; História ilustrada da Mitologia. 1° Ed., São Paulo: Editora Manole Ltda, 1999; -
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- PIETRO, C.; A arte da invocação: invocações, textos ritualistícos e orações sagradas para praticantes de Wicca, Bruxaria e Paganismo. São Paulo: Gaia, 2008;
- PIETRO, C.; Todas as Deusas do mundo: rituais wiccanos para celebrar a Deusa em suas diferentes faces. 2° Ed. São Paulo: Gaia, 2003 (Coleção Gaia Alémdalenda);
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- REGULA, D.; Os mistérios de Ísis: seu culto e magia. São Paulo: Mandras, 2004;
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