Antigamente (bem antigamente), religião, valores morais e os costumes sociais dos povos andavam de mãos dadas, não havia separação. Uma coisa levava à outra, eram partes de um todo. Com os celtas não haveria de ser diferente.
Graças aos textos medievais de Irlanda e Gales (que remontam a uma tradição oral ainda mais ancestral), podemos hoje ler alguns desses códigos que guiavam os soberanos e toda pessoa de bem. Como exemplo, temos o texto irlandês Tecosca Cormaic (As Instruções de Cormac, encontrado no Livro de Ballymote), no qual o rei Cormac passa diversos ensinamentos para seu filho e sucessor Cairpre, apontando a conduta correta para diversas situações. Outro exemplo é o Audacht Morainn (também irlandês), texto-testamento que aponta o modelo de conduta do soberano honrado.
Em tempos atuais, muitas linhas de druidismo - e também o reconstrucionismo celta - propõem um retorno ao druidismo histórico, mas sem esquecer que vivemos em outros tempos. É o que acontece com a ADF – sigla para Ár nDraiócht Féin: A Druid Fellowship (algo como “Uma sociedade druídica”), que também possui em suas normas, uma lista de nove virtudes pagãs. São elas:
Sabedoria – Piedade Religiosa – Visão – Coragem – Integridade –
Hospitalidade – Moderação – Fertilidade – Perseverança
Agora vamos trazer isso para as vidas daqueles e daquelas que vivem o druidismo. Ou mesmo para as vidas das pessoas que nem mesmo sejam pagãs. Certamente, muitas dessas virtudes são especialmente difíceis de cumprir, dado o tamanho da decadência moral e social em que vivemos. Violências, preconceitos, injustiças, intolerâncias, corrupções. Tirando nossas próprias crises pessoais, dificuldades que todos passamos e precisamos superar. Não é fácil. Quando nos comprometemos a seguir e viver uma religião, não vale só da boca pra fora, ou da porta de casa pra fora. Vale para todos os momentos da sua vida; especialmente – e talvez unicamente – para você mesmo.
Enquanto devota dos antigos deuses observo, através de lendas e relatos históricos, que a fraqueza, a mentira e a indignidade, se não eram punidas com severidade por si só encontraram tristes fins. Ah, então quer dizer que devemos seguir tais valores por temor? Claro que não. Devemos segui-los porque são a maneira mais digna e mais proveitosa de vivermos nossas vidas. Porque é o certo.
“- Ó Cormac, filho de Conn – disse Cairpre – quais são o pior pedido e a pior argumentação?
- Não é difícil dizer – falou Cormac. - Combater contra o conhecimento, argumentar sem provas, escudar-se em linguagem imprópria, uma elocução tensa, falar resmungando, excesso de minúcias, provas duvidosas, desprezo aos livros, voltar-se contra os costumes, mudar o pedido, instigar a ralé, soprar a própria corneta, berrar a todo pulmão.
- Ó Cormac, neto de Conn – disse Cairpre -, quem são os piores com quem podes fazer uma comparação?
- Não é difícil dizer – falou Cormac. - Um homem com o descaramento de um satirista, com a belicosidade de uma escrava, com a negligência de um cão, com a consciência de um patife, com a mão de um ladrão, com a força de um touro, com a respeitabilidade de um juiz, com saber engenhoso e perspicaz, com o discurso de um homem majestoso, com a memória de um historiador, com o comportamento de um abade, com o juramento de um ladrão de cavalos. E sendo inteligente, mentiroso, grisalho, violento, blasfemo, falastrão, quando diz: “a questão está decidida, eu juro, jurarás também”.”
Trecho de Tecosca Cormaic – As Instruções de Cormac.
Tradução do druida Bellovesos Isarnos.
ADF - http://www.adf.org/core/
Tecosca Cormaic - http://bellovesos.multiply.com/journal/item/62/62
Audacht Morainn - http://bellovesos.multiply.com/journal/item/57/O_Testamento_de_Morann
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