domingo, 19 de agosto de 2012

Cultus Deorum: Posturas Pagãs

As posturas mais comuns esperadas de um adepto do Cultus Deorum são ligadas à “religio” (a crença de que os Deuses são nossos parceiros benevolentes). Além disso, outra virtude esperada é a “Pietas” (cumprir o dever para com os Deuses e os outros), dando atenção aos Deuses.

A “Religio” é a crença de que os Deuses são “os parceiros benevolentes dos mortais na gestão do mundo e que os rituais prescritos são a contrapartida esperada pela ajuda oferecida pelos imortais” (Scheid p.173).

M. Terentius Varro (séc. I a.C.) escreveu: “O homem religioso reverencia os Deuses como aos seus pais, pois eles são bons, mais dispostos a perdoar do que punir”.

“Religio” permeia a vida dos justos e conscientes, e os que regulam a sua conduta por de acordo com regras e limites.

Pietas é a aplicação da religio na ação, sobretudo pelo empenho em cumprir as exigências da parceria com os Deuses. Pietas requer sinceridade, por isso um desempenho superficial do ritual, sem qualquer sentimento, é simplesmente inaceitável. Pietas também se estende à esfera social e, novamente, significa o cumprir os deveres e honrar as obrigações individuais, familiares e sociais. Apesar de muito ligados a espiritualidade, os romanos abominavam a superstitio, que é a crença de que os Deuses são vingativos, maus ou invejosos, por isso não era visto com bons olhos o comportamento servil excessivo destinado apaziguar a ira dos imortais.

Superstitio engloba também o desejo de extrair conhecimento ou poder a partir da relação com os Deuses. A soma total de religio e pietas é cultus deorum. Cícero cita a opinião do filósofo estóico Q. Lucilius Balbus sobre o cultus deorum:

“Nós devemos venerar e adorar os Deuses, pois não há nada mais puro, a mais venerável e mais sagrada que o “cultus deorum”, desde que sejam venerados com pureza, justiça e integridade de mente e de palavra. Não somente os filósofos, mas também os nossos antepassados distinguiram a superstitio de religio."

Os romanos estavam atentos às mensagens divinas e, possivelmente por causa da influência etrusca, deram atenção especial aos sinais da natureza; raios e trovões, vôo dos pássaros entre outras ocorrências. Ainda hoje nos vemos em uma estreita relação com os Deuses e com o mundo natural, que eles criaram e mantêm. No entanto, hipersensibilidade a esses sinais era uma forma de superstitio.


Esta religião oferece algum tipo de orientação para a vida?
Nós cremos que uma vida “correta”, de acordo com os padrões romanos, é promovida por meio da filosofia, não necessariamente por meio da religião, apesar de que as duas em harmonia podem favorecer uma postura melhor por parte do homem. Embora o cultus deorum não tenha “livros inspirados”, é incorreto dizer que os cultores não têm guias. Somos livres para usar a nossa razão e filosofia para guiar nossas vidas, e a história romana nos oferece um exemplo notável.

Marcus Tullius Cicero é bem conhecido por seus discursos e sua carreira política (ele já foi um cônsul), mas ele também foi um áugure, um filósofo e um pai. É com as duas últimas que escreveu um pequeno volume intitulado "De Officiis" sob a forma de uma longa carta ao seu filho, também chamado Marcus. Neste livro, Cícero colocou suas idéias sobre os deveres morais: “Para nenhuma fase da vida, seja pública ou privada, seja nos negócios ou no lar, se um está trabalhando no que diz respeito a si mesmo isolado ou lidando com o outro, há como ser sem seu dever moral” (Cicero, De Officiis, I, 2).

As idéias de Cícero foram adotadas indiscriminadamente pelos primeiros pensadores cristãos. Da declaração de Santo Ambrósio de 390 d.C. que legitimou De Officiis para uso eclesiástico (e todas as outras obras de Cícero), até o presente, as idéias de Cícero têm sido a base do pensamento ocidental. O primeiro livro impresso por Gutenberg, logo após sua Bíblia, foi o “De Officiis”, de Cícero.

A noção de vida correta para Cícero é essencialmente baseada na idéia de que todas as pessoas estão conectadas através da natureza e dons dos Deuses, incluindo a abundância da natureza e a idéia de civilização. Assim, longe de ser desprovido de orientação moral, o cultus deorum, através de sua abertura ao pensamento filosófico, se tornou a base do pensamento moral do Ocidente. Este é tanto o nosso patrimônio quanto nossa tradição viva.

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