Ogum, filho de Odudua (a cabaça de onde jorrou a vida), rei da cidade nigeriana de Ifé, Deus da metalurgia, é um dos Deuses mais importantes do panteão africano.
Conta a lenda que certa vez a seca estava acabando com toda a forma de vida que poderia existir em Ifé, o solo estava tão seco que os Deuses com seus instrumentos de pedra e madeira não conseguiam arar a terra, e o metal que eles conheciam era tão fraco que também não conseguiam fazer nada com ele pois logo se quebrava. Eles logo perceberam que teriam que abrir novos campos para lavoura, e que para isso precisariam abrir caminho na mata. Primeiro, foi Ossaim, o Deus da Medicina, que nada conseguiu. Depois tentou Xangô que também voltou com seu instrumento quebrado; todos tentaram e não conseguiram nada, começaram a pedir a Oxalá que lhes ajudasse, mas este disse que lhe deixassem em paz. Ogum que a tudo assistia resolve piedosamente intervir e entra na mata, levando consigo o seu machado que possuía uma lâmina que ofuscava ao bater dos raios do sol.
Durante todo o resto do dia ouviu-se o barulho da capinagem. Alguns não acreditavam na façanha de Ogum e diziam que ele logo voltaria com o machado quebrado. No entanto, ele entrou noite a dentro derrubando e limpando o terreno. No amanhecer do outro dia, ele finalmente volta a Ifé e os Deuses ávidos pela novidade perguntam se ele conseguiu, e ele diz para eles irem olhar. Eles ficaram espantados e foram logo perguntando como ele conseguia fazer um material tão rígido. Ogum respondeu que havia sido um segredo de Orunmilá, o arqui-sábio Deus dos oráculos que conhecia vários segredos e mandingas, que havia lhe ensinado. Todos pediram para que ele contasse qual a técnica pra fabricar o ferro, mas ele disse que não poderia, afinal, era um segredo! Então, os Deuses resolveram negociar e perguntar o que ele queria em troca. Ogum ficou calado e logo perceberam e aceitaram que ele fosse o Rei de Ifé. Assim, o segredo da arte de fabricar o ferro foi ensinado aos outros Deuses.
Ifé prosperou tanto que seus moradores começaram a ficar esnobes. Um belo dia, Ogum decidiu tirar férias e ir caçar, dada a prosperidade que havia em seu lar. Passou dias foras e ao voltar, fedendo a estrume e carniça, os habitantes da cidade passaram a reclamar que um rei e um Deus não podia andar por aí fedendo daquele jeito, os Deuses fizeram coro aos habitantes de Ifé e assim o rei se viu destronado. Deu meia volta e saiu de Ifé, andou bastante, banhou-se em um rio e fez uma tanga para ele de folhas de palmeira, que passou a ser sua veste típica. Mudou-se para Iré, bem distante de Ifé. Ainda é possível vê-lo sentado debaixo da árvore onde floresce o acocô (folha que serve para fazer a coroa de louros africana), meditando acerca da ingratidão divina e humana.
De uma outra vez, em Iré, ao voltar de uma de suas caçadas não foi recebido com festejo pelo seu povo, ele exterminou mais da metade dos seus súditos para descobrir porque eles não o recebiam com festa, mas sem sucesso, no outro dia foi acordado por uma cantoria a porta de sua casa e descobriu que o dia anterior era um dia sagrado em que as pessoas não podiam falar, por isso ninguém lhe respondia. Mesmo assim foi perdoado pelo seu povo e continuou seu reinado. Porém, sua história está repleta desses atos impensados que fizeram com que ele perdesse o trono por não seguir algumas regras vigentes.
Ogum é impulsivo e corajoso, fazia sem pensar e muitas vezes não se importava com as leis e ritos da sociedade, isso fez com que ele por mais que conseguisse o trono perdesse-o novamente por não ter a aptidão necessária para governar, ou seja, o jogo de cintura. Ele é conhecido também por ser o primeiro Deus a descer dos céus para a terra.
Beijocas estaladas no coração de todos e até a próxima semana!
Referências Bibliográficas:
- FRANCHINI, A. S.; SEGANFREDO, C.; As melhores histórias da mitologia africana. 3°Ed., Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2011, 246 p.
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