Amaterasu retirou-se da terra e não houve Deus que a convencesse a voltar. Com sua partida e a instalação das trevas os youkai (espíritos perversos) sairam de seus esconderijos no submundo e foram tomando conta da terra, saqueando as plantações e fazendo maldades por aí. O nihon mai (arroz) e o saquê precisaram ser racionados, pois sem o sol não tinha como repô-los. Em suma, a terra e o céu tornaram-se um caos.
Os Kamis não aguentando mais o suplício em que estavam começaram a maldizer o Deus Susanowo, até que Maakyurya (Deusa da Sabedoria) teve a ideia de que se fizesse uma grande festa na porta da caverna e assim, a Deusa do Sol não resistiria ao cheiro do sakê e a curiosidade sobre o porque de tanta diversão.
Enfeitaram e coloriram a porta da caverna de várias formas e quando tudo estava pronto, eles retiraram o Yata no Kagami (espelho de oito lados) e as joias Yasakani no Magatama para que quando Ela saisse da caverna fosse ofuscada por sua própria luz e acreditasse que houvesse luz no mundo a despeito de sua presença. O espelho junto com as joiais tornou o local brilhante e luxuoso. Mas por mais que os Kamis rissem e se divertissem e mesmo com todo o cheiro forte do Sakê, Amaterasu não apareceu. As fogueiras esmaeceram e os Kamis desistiram e deram as costas para a "catacumba da viva".
Ame no Uzume, a Deusa da Chuva e a mais espirituosa dos Kamis, começou a sapatear sobre uma pedra, fazendo-os virarem a cabeça para ver quem ainda tinha força para tentar mais algo. Uzume começou a dançar como se a música viesse de sua própria alma, rodopiava sobre si mesma, saltava e junto com ela, os seus raios acompanhavam seus passos. Os Kamis pararam para assistir e logo a dança começou a ficar mais obscena, mais lenta, assim como os pingos de chuva começaram a cair mais docemente e, os raios a rasgar a roupa Dela sem nunca atingi-la. A ingênua lascividade da dança e o inusitado dos gestos que Uzume estava fazendo fez com que todo o panteão começasse a gritar lascivamente para Ela, a acompanhar seus passos com palmas, pedindo que não parasse mais. E isso atraiu a atenção de Amaterasu, que finalmente resolveu ir ver o que estava acontecendo, o por quê de todos aqueles assovios e aplausos que pareciam tão obscenos. Abriu um pouco a entrada da caverna para espiar e ficou ofuscada com sua própria imagem, era estranho se ver como se estivesse lá fora, dentro do espelho, até que se deu conta que o brilho que fitava era o seu próprio. Então, Ela deu um belo sorriso e ajeitou os belos cabelos roxos e saiu completamente da caverna. Logo os Kamis notaram sua presença e tornaram-se novamente felizes pedindo para que nunca mais Ela os deixasse. Os youkai logo voltaram para seus esconderijos e a festa continuou agora festejando a volta da Deusa do Sol! Banzai!
Essa é uma das principais histórias de Amaterasu, ainda conta-se a forma como o Deus Susanowo pediu desculpas a irmã e o nascimento de seus filhos. No entanto, esta que lhes contei foi escolhida por ser bastante emblemática: a Deusa desisti de seu poder, deixa que o seu irmão ganhe a contenda e esquece-se Dela e de todos aqueles que precisavam dela. Ela esquece o qual forte e necessária Ela é. E desta forma nos faz lembrar que não devemos esquecer o nosso poder interno, não devemos esquecer a nossa própria luz, pois então nossas plantações irão secar, nossos youkai irão aparecer e nossa vida tornará-se um caos e nem sempre podemos contar com uma Uzume em nossas vidas para nos retirar da caverna.
Então, olhe-se no espelho e perceba o Poder que existe dentro de você!
Beijocas estaladas no coração de todos!
Referências Bibliográficas:
- DONATELLI, M. (coord.); O livro das Deusas – Grupo Rodas da Lua. São Paulo: Publifolha, 2005;
- MARASHINSKY, A. S.; O oráculo da Deusa: um novo método de adivinhação. São Paulo: Pensamento, 2007;
- MONAGHAN, P.; O caminho da Deusa: mitos, invocações e rituais. São Paulo: Pensamento, 2009;
- SEGANFREDO, C.; As melhores histórias da mitologia japonesa. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2011.
- SEGANFREDO, C.; As melhores histórias da mitologia japonesa. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2011.
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