Lord Vincus: Me parece este, um assunto mais fácil, e por ser mais próximo, menos passível de erro. [...]
Primeiro é necessário recordar que o homem médio é um ser hibrido, é ao mesmo tempo composto de substancias sensíveis e supra sensíveis, e cada uma de suas partes possuem uma natureza própria e diferentes ofícios. [...]
O corpo tende sempre a saúde e a beleza, isso o torna feliz, um corpo que vive de forma desregrada, onde sua aparência denuncia o descaso, e sua imagem diante de si mesmo não é agradável, tende a adoecer, e adoecendo, pode fechar aos os poucos o canal do intelecto impedindo que a alma, sua governante, tome seu devido poder sobre ele. [...]
Ao passo que a alma,tende sempre ao conhecimento, apenas até onde o corpo permite, pois como não é da natureza corpórea o conhecimento dos seres ou do divino, a alma precisa estar livre do corpo ou momentaneamente separada, para vislumbrar verdades superiores.
Orodreth: E todos os homens são iguais?
Lord Vincus: Não, como ousa pensar isso, oh Orodreth... Entre os homens deste mundo, e existem vários grupos de homens, uns são superiores e outros inferiores em relação à ascensão, e assim é necessário ser, pois o movimento das almas jamais para, se parassem, seria por que o motor primeiro parou de mover, e se ele não mover mais, será por que mudou sua antiga função, e como já foi dito muitas vezes, ele não é passivo de mudança.
Orodreth: Mas como você explica o momento em que este não criava e passou a criar?
Lord Vincus: Ótima pergunta, mas este momento não existe, o motor primeiro não situa-se em um espaço, como já demonstrei, pois nada pode conte-lo, e também não situa-se no tempo, logo cria e move sempre, em sua eternidade.
Orodreth: Ainda me restam algumas duvidas...
Lord Vincus: Então vamos adiantar-nos, pois já passamos muito tempo conversando.
Orodreth: Considerando que o pré principio criou tudo por pensamento, e nos pensa eternamente, e assim sabe tudo em todos os tempos de ocorrência, aquela antiga ideia de livre arbítrio, é verdadeira?
Lord Vincus: Quer saber se somos livres?
Orodreth: Sim Lord Vincus, como desejo saber!
Lord Vincus: Tudo que foi criado, está sujeito a leis intransponíveis de criação, não somos livres em relação a tais leis, que somos obrigados a obedecer, que são leis de nossa existência, mas partindo delas, podemos tomar escolhas e criar, tal como o demiurgo fez, afinal, também somos mentes. [...]
O único ser realmente livre, é o motor primeiro, pois não é sujeito a tais leis.
Orodreth: E quais são essas leis?
Lord Vincus: As citarei apenas, pois pretendo deliberar sobre elas em outro momento. Estas são 7, conhecidas também como axiomas herméticos e elas são:
A lei do mentalismo: Tudo que veio a ser, veio a ser a partir do pensamento.
A lei da correspondência: Tudo que foi criado pode ser conhecido, não importa quão distante esteja, pois tudo está sob as leis.
A lei da vibração: Tudo se move.
A lei da polaridade: Tudo tem seu oposto.
A lei do ritmo: Tudo se manifestas por oscilações compensadas.
A lei de causa e efeito: Toda causa tem um efeito, e tudo que ocorre, tem uma causa. (“O acaso é somente uma lei não conhecida” O caibalion)
A lei do gênero: Tudo tem seu principio masculino e feminino.
Orodreth: Oh, como tornou mais claro meus pensamentos, e me parece que está trazendo uma nova via de adoração.
Lord Vincus: Afaste-se disso. Por acaso não me ouviu dizer que todos os deuses não são perfeitos e assim como nós, são passiveis de erro? Por que adora-los? E se tu te referes ao motor primeiro, não me ouviu dizer também que só podemos conhecer as coisas pelo pensamento, usando a lei de correspondência ou se preferir da semelhança, e Deus não criou a si mesmo, logo ele não é seu próprio objeto de pensamento, e se ele não é pensado, como já foi dito, não pode ser conhecido, afinal, ele não é sujeito às leis. Como adorar aquilo que não posso pensar? E mais, o que esperaria dele, se em sua imobilidade apenas cria e move? E o que eu poderia oferecer? Orações? Sendo ele perfeito, o que posso oferecer que ele já não possua?
Orodreth: Mas você disse que ele é o único bem.
Lord Vincus: Disse, pois ele é o único dos seres, que tudo dá e nada recebe, pois não há nada que lhe falte.
Orodreth: Então reconhecendo isso, deveríamos ignora-lo?
Lord Vincus: De forma alguma, devemos conhecer sua criação, para assim nos aproximarmos dele, embora, nunca venhamos a alcançá-lo. Pois o homem nada mais é que um eterno andarilho. E a única forma de viver feliz sob as leis divinas, é com o cumprimento do oficio, no nosso caso, é conhecer e ter saúde.
E é aí que a religião, no sentido de adoração a algo, torna-se mera bajulação que adoece os homens, os torna dementes na tentativa de pensar algo que não pode ser pensado, e imploram por atenção, acabam inúteis para o oficio.
Orodreth: Eu, como um bom pagão, sou obrigado a discordar de tal pensamento, muito embora não possa ir de contra a ele. E agradeço-lhe por me instruir tão pacientemente, pois queimo de felicidade por tudo o que aprendi.
Lord Vincus: Disponha caro amigo. Vou indo, pois não pretendo privar-lhe nem mais um segundo, de tentar ter a atenção desta arvore.
Referencias Bibliográficas
Corpus Hermeticum ( Hermes Trimegisto)
O caibalion ( Os três iniciados)
Fédon ( Platão)
1 comentários:
Por você me ter dito que aqui se encontrava o seu ponto de vista sobre o divino, vim ler o texto, mas me surpreendi com a leitura. Boas idéias, escrita concisa, e bom material para refletir. Parabéns!
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