segunda-feira, 30 de julho de 2012

A Lança: Anúbis (Parte 1)

Anúbis, filho de Néftis e Osíris. Deus com cabeça de chacal. Primeiro Senhor dos Mortos. Guia dos Mortos Egípcios. Fiel protetor de Ísis.

Néftis, sua mãe, mantinha uma paixão secreta por Osíris, seu irmão e marido de sua irmã gêmea Ísis. Certo dia, colocou um pouco de perfume da irmã e deitou-se nos jardins em que Ísis ficava. Era noite. Osíris chegou de viagem e com saudades de sua esposa procurou-a, mas por conta da escuridão e do perfume inebriante que sentia e a semelhança entre as duas mulheres, não notou que deitava-se com outra. Anúbis assim foi concebido.

Ao nascer foi deixado por sua mãe às margens do Nilo, pois esta temia a ira de Seth, seu marido. Ísis ao saber do ocorrido procurou a criança e resolveu dela cuidar. Anúbis cresceu sendo protegido por Ísis e em gratidão também a protegia. Com ela descobriu os dons da cura e juntos, quando da morte de Osíris, criaram os primeiros ritos de mumificação. 

Em resumo, esta é a principal história de Anúbis. No entanto, sua lenda pode variar e outros atributos deste guia devem ser compreendidos. Mas para o início dessa história gostaria de lhes apresentar um texto encontrado no livro de Kala Trobe que para mim fala muito bem do papel de Anúbis.

"Os pranteadores andeiam pelas margens do Nilo suas lágrimas aumentadas pelo incenso viscoso que se derrama das mãos do sacerdote com cabeça de chacal, à frente da procissão. Embora ele mostre o caminho, magicamente também sustenta a múmia que vem atrás, mulher e filhos lamentando-se e rasgando as roupas por seus Osíris. Esta é uma procissão funerária na qual as carpideiras profissionais são desnecessárias.

O caminho para a tumba é longo, um longo caminho pelas areias escaldantes; mas com bocas secas e faces molhadas, repetem os encantamentos que garantem uma chegada segura. Essa viagem de lágrimas é apenas o início; mil processos de transição devem ser realizados para que o bem-amado esteja pronto para navegar na Barca de Rá-Osíris rumo à imortalidade estelar.

Aves falconídeas irmãs sobrevoam a procissão, suas asas protegendo do sol a faixa de humanidade enlutada. Ísis nunca perde um funeral; quer certificar-se de que ninguém sofra como ela na busca de seu Osíris. Ela transmite simpatia aos enlutados e proteção aos Mortos.

Anúbis guia-os para a necrópole. Ele canta seus encantamentos de qualquer maneira, abrindo a boca da tumba para receber seus mortos, uma comunhão legítima ecoada pela abertura da boca de Osíris. O duplo da alma pode participar do alimento e da bebida sagrada, uma vez que os complexos rituais iniciais tenham sido realizados, mas primeiro é hora de dizer adeus ao Exterior, adeus aos pranteadores que gritam e se lamentam. Acima deles, Ísis derrama uma lágrima de recordação.

O sarcófago é baixado à tumba. Anúbis, que torna todos os corpos sadios outra vez, toca-o e é transportado para dentro. Aqui ele lançará seus talismãs, fará suas mágicas, garantirá uma viagem segura para a jovem alma.

Seus olhos aguçados contemplam de seu rosto preto-sódio uma advertência a qualquer um que deseja imiscuir-se na propriedade e nos direitos desta alma nova. A alma percebe seu guardião; preto como o lodo, ele nomeia aquela pele; tão negro como o fértil Delta verdejante quando as marés retrocedem...

 Osíris no meio, o portador do cetro, Anúbis, à esquerda, Thot, à sua direita, Hórus, ao norte e Seth, ao Sul, sonhando com as correntes do rio e embalada pelas orações e o incenso, a alma repousa inviolada."

Anúbis protege os vivos e os mortos. Falaremos mais sobre isso na próxima semana.
Beijos estalados para todos!



Referência bibliográfica:

Trobe, Kala; Invocação dos Deuses. São Paulo: Madras Editora, 2001, p. 113 e 114.

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