segunda-feira, 8 de abril de 2013

A Lança: Susanowo (Parte 3)

por Rosario Câmara

Ao sair da caverna em que tinha se isolado, Amaterasu ordenou que lhe trouxessem o irmão. Cada Kami deu o seu pitaco do que deveria ocorrer ao Deus. Antes, de finalmente ter sua sentença pronunciada, Susanowo matou um Kami que não queria lhe dar comida. Em resposta a todas atrocidades que já tinha feito, Amaterasu ordenou que jogassem-no abismo marítimo. O Deus estava banido de Takaamahara, sem seus cabelos e barbas, que foram também cortados e tornaram-se uma grande floresta no reino dos céus.

Susanowo ao conseguir chegar a uma praia, sentiu-só e vazio, amaldiçoou sua sorte e continuou sua jornada em busca de contato humano. Andou até chegar ao reino de Kunitsukami (Deus da Terra) e descobriu que lá existia um dragão que ameaçava a vida de todos. O rei lhe disse que o dragão agora pedia sua última filha Kushinada. Susanowo num arroubo de juventude disse que poderia fazer o trabalho facilmente e não entendia como os homens da região ainda não haviam tratado do problema. Foi então que a rainha disse que se ele fizesse tal feito seria considerado o Herói dos Heróis, por matar Yamata no Orochi, o dragão de oito cabeças e oito caldas. O Deus do Trovão começou a se arrepender de suas palavras impensadas e a pensar em como sair de lá, quando adentrou o salão uma linda jovem. O rei informou que era sua última filha e o Impetuoso Deus viu surgir novamente suas forças. Disse-lhe que faria com prazer o serviço desde que a jovem trocasse de leque com ele.

A princesa aceitou casar-se, se ele salvasse-lhe a vida.

O Deus então teve uma ideia: pediu que trouxessem todo o saquê que existia pelas redondezas e contou a ideia de matar o dragão quando ele se embriagasse. Todos riram da sua ideia, mas ajudaram-no. Montou as margens do rio Hiikawa, vários toneis por onde o dragão poderia tomar o saquê. Quando a noite chegou, trouxe com ela Yamata no Orochi, que ao ver que sua presa não estava ali, ficou irritado e principalmente ao ver que no lugar dela havia um ser minusculo e careca empunhando uma espada. Mas ao preparar-se para atacar sentiu o cheiro do saquê e logo virou suas oito cabeças para a armadilha que o Deus havia lhe preparado. Bebeu avidamente até não restar mais nada. E finalmente tombou.

Susanowo foi até ele e cortou as oitos cabeças. O rio tingiu-se de rubro. Na última cabeça, uma lágrima escapou dos olhos do dragão uma lágrima que cristalizou-se e virou um lindo espelho onde o Deus da Lua, Tsukiyomi no Mikoto, espiou e sentiu-se orgulhoso da façanha de seu irmão. Logo após, o Kami foi cortar as caudas da fera e acabou descobrindo um maravilhoso artefato que ela guardava: a espada de dois gumes, Ame no Murakumo no Tsurugi, também conhecida, como Kusanagi no Tsurugi, a maior espada da história japonesa. Com a espada o Kami terminou o seu trabalho, rasgando-lhe o ventre e encontrando ali o Sagrado Orbe da Vida, o Magatama.

Casou-se em meio aos vivas de toda a população e modificou seu ser ao encontrar o amor na princesa Kushinada. Um dia ao afiar sua belíssima espada, deu-se conta que não era muito diferente do monstro que havia matado, pois ele também havia espalhado o terror pelos reinos celestes. Decidiu então dar a espada a sua irmã, para que ela lhe perdoasse. Mandou limpar o mar também, para que a Deusa pudesse banhar-se nele. Deixou com sua amada o espelho da lágrima de dragão e partiu para o reino de sua irmã. Dessa forma, deu origem a província de Izumo no reino terrestre.

Recado da autora: Peço desculpas pela falta da semana passada, estive de mudanças e não deu para fazer as postagens. Mas estamos de volta! Até a semana que vem!

Bibliografia Consultada:

Seganfredo, C.; As Melhores Histórias da Mitologia Japonesa. Porto Alegre, RS: Artes e Ofícios, 2011.