
Para compreender tal assunto irei muito breve e grosseiramente introduzir a teoria das ideias em Platão e, a partir dela, desenvolver também uma breve explicação sobre o amor.
Platão dirá que há dois mundos, o primeiro seria um mundo superior no qual ele chamará de mundo das Ideias, que é basicamente um mundo incriado, imperecível e imutável, onde apenas residem os particulares, ou seja, as ideias. O outro mundo é da pluralidade ou mundo sensível, passivo aos sentidos, onde as coisas se originam e com a corrupção sendo meramente uma sombra do mundo das Ideias.
O mundo das ideias é, em resumo, o mundo perfeito e verdadeiro, onde podemos encontrar as coisas em si, enquanto que no mundo sensível nos é mostrado apenas os reflexos ou sombras, ou seja, ilusões das coisas verdadeiras. Feito esta apresentação rudimentar das teorias ideias, passo agora a apresentar o amor platônico e, segundo essa mesma filosofia, pretendo apresentar a importância do amor para os homens e principalmente para o filosofo em sua busca pela verdade.
O filosofo grego explicará o que é o amor através do mito, na obra O Banquete, onde pela personagem Diotima ele explica que o amor é filho da Penúria e da Riqueza, concebido no dia do nascimento de Afrodite. Sendo filho da Penúria, Eros (Amor) está sempre em falta, necessitando completar-se, desejante. Porém sendo filho da Riqueza não deseja qualquer coisa, mas tudo o que é belo e bom. Sendo filho destes, Eros não é rico ou pobre, mas está entre os dois, pois não é tão pobre que ignora a riqueza, nem tão rico a ponto de não precisar buscá-la.
Assim, segundo Platão, o amor é um desejo e como tal uma falta somada à necessidade de completar-se. Sendo o Amor uma falta, ele será o responsável por todas as buscas humanas, desde as buscas relacionadas ao corpo até as movidas pela alma. Como já foi dito, Eros não busca qualquer coisa, mas somente coisas ligadas a Beleza, por isso toda busca é uma busca ao belo, mesmo que o ser ignore este fato e não venha porventura alcançar a Beleza.
“O Amor é um desejo e que, por outro lado, mesmo as pessoas que não amam desejam sempre o belo. [...] em cada um de nós existe dois princípios, de forma e de conduta, que seguimos para onde eles nos conduzem: um, inato, é o desejo do prazer, outro, adquirido, que aspira sempre ao melhor.” (Platão, Fedro)
O que busca um homem então quando ama uma mulher? Ou uma mulher quando ama um homem? Ou ainda, o que buscam pessoas que amam outras do mesmo sexo? Estes encontram o reflexo do belo e através disso desejam o outro buscando completar-se, pois todo amor é uma falta, uma necessidade de completude pelo encontro do Bem e do Belo.
“ A nossa natureza primitiva era aquela que eu disse, e nós éramos um todo único. Assim, é ao desejo e à busca dessa totalidade que se dá o nome de amor” Platão, O Banquete
(Ubaldo Nicola, p 74)
A busca do belo, segundo a personagem Diotima, se dá inicialmente pelas paixões do corpo e, através dela, pela ascensão gradual até o Belo em si mesmo, ou seja, buscando os belos nas coisas particulares e a partir dos particulares alcançar o Belo em si.
“Em primeiro lugar, de fato, se for bem orientado, deve amar um corpo em particular e engendrar uma bela conversa; mas em seguida vai notar como a beleza desse ou daquele corpo é semelhante à de qualquer outro e que, se pretende buscar a ideia da beleza, é rematada tolice não encarar como uma só coisa a beleza que pertence a todos. Tendo percebido essa verdade, deve tornar-se amante de todos os belos corpos e arrefecer seu sentimento por um único, desprezando isso como uma bobagem.Seu próximo passo será dar maior valor à beleza das almas do que à do corpo, de forma que, por menor que seja a graça de qualquer alma promissora, bastará para seu amor e cuidado e para despertar e pedir um discurso que sirva a formação dos jovens. E por último pode ser levado a contemplar o belo que existe em nossos costumes e leis e observar que tudo isso tem afinidade, assim concluindo que a beleza do corpo é questão menor. Dos costumes pode passar aos ramos do conhecimento e aí também encontrar uma província da beleza. Vendo assim a beleza no geral,poderá escapar da mesquinha e miúda escravidão de um único exemplo em que concentre como um servo todo o seu cuidado, como a beleza de um jovem, de um homem ou de uma prática. Dessa forma voltando-se para o oceano maior da beleza, pode pela contemplação despertar em todo o seu esplendor muitos e belos frutos do discurso e da meditação, numa rica colheita filosófica; até que, com a força e ascensão assim obtidos, vislumbra o conhecimento especifico de uma beleza ainda não revelada. [...]
Quando um homem foi assim instruído no conhecimento do amor, passando em revista coisas belas uma pós outra, numa ascensão gradual e segura, de repente terá a revelação, ao se aproximar do fim de suas investigações do amor, de uma visão maravilhosa, bela por natureza, e esse Sócrates, é o objetivo final de todo afã anterior. Antes de mais nada, ela é eterna e nunca nasce ou morre, envelhece e diminui [...], existente sempre de forma singular, independente, por si mesma, enquanto toda multiplicidade de coisas belas participam de tal modo que, embora todas nasçam e morram , ela não aumenta de diminui e não é afetada por coisa alguma.” Platão, O Banquete
( Danilo Marcondes, p29)
Desse modo, a busca pela sabedoria é também uma busca guiada pelo amor. O filosofo busca e ama a sabedoria, pois ele não a possui, e ele a busca por ela participar do Bem e do Belo mais que qualquer desejo do corpo, visto que a sabedoria é um desejo concernente a alma, e como tal, mais próximo de contemplar a verdade.
Todo homem busca o belo, todas as ações são guiadas pelo amor e a necessidade de completude, as ações podem ser ações de temperança ou de gula, ou seja, orientadas ou não pela razão, desse modo, se não houvesse o amor e o desejo, não estaria o homem hoje, estático?
Referências Bibliográficas
Danilo Marcondes,Textos básicos de filosofia, editora Zahar, 1999.
Platão, Fedro ou da Beleza, Editora Guimarães, 2000.
Ubaldo Nicola, Antologia Ilustrada de Filosofia, Editora Globo, 2005.





Posted in:




2 comentários:
Muito boa explicação! Parabéns!
Obrigado Odir
Postar um comentário