
A coreografia só aprofundou o desconforto que a música havia muito bem instaurado: a história de uma virgem sacrificada em favor do deus da primavera após o embate entre tribos rivais. O músico maturava a composição desde pelo menos 1910. “A ideia de Le Sacre du Printemps me veio enquanto ainda estava compondo O Pássaro de Fogo. Sonhei com uma cena de paganismo ritual na qual uma virgem escolhida para sacrifício dança até a morte. Essa visão não veio acompanhada de ideias musicais concretas”, conta ele numa de suas várias explicações sobre o momento de inspiração. Ao longo dos anos, em razão dos contextos, as versões se alterariam.
Revolucionária, a obra provocou desmaios, gritos e insultos. Foi um verdadeiro tumulto, como relembrou o próprio Stravinky em uma entrevista nos anos 60: "O público gritava, assobiava e vaiava desde o início. Os espectadores tinham vindo para ver balés tradicionais, como 'Sherazade' ou 'Cleópatra', e se depararam com 'A Sagração da Primavera'. Ficaram muito chocados", contou o compositor.
"A Sagração da Primavera" afunda suas raízes no folclore eslavo e na rica tradição musical russa. Enquanto a partitura extraía novos sons de instrumentos familiares e tomava liberdades com o ritmo, os dançarinos quebravam todas as regras do balé tradicional: em vez das graciosas pontas, por exemplo, os pés eram virados para dentro.
Para festejar o centenário da histórica estreia em Paris e o seu próprio aniversário, o Teatro des Champs-Elysées foi palco nos dias 29, 30 e 31 de maio, de quatro representações excepcionais do balé original de Nijinsky. Perdida durante décadas, a coreografia foi reconstituída nos anos 80 graças às pesquisas de uma coreógrafa americana e um historiador da arte inglês.

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