segunda-feira, 3 de junho de 2013

O Paganismo na Arte: A Sagração da Primavera, de Stravinsky, completa 100 anos

03.jpg (608×456)No dia 29 de maio de 1913, a elite parisiense se reuniu no recém-inaugurado teatro des Champs-Elysées para ver mais um espetáculo dos Balés Russos de Serghei Diaghilev, sem saber que a noite entraria para a história da música e da dança. Era a estreia da Sagração da Primavera, uma composição de Igor Stravinsky coreografada pelo mítico bailarino Vaslav Nijinsky. Na época, não se sabe se é a música ou a coreografia que provoca mais escândalo.  

A coreografia só aprofundou o desconforto que a música havia muito bem instaurado: a história de uma virgem sacrificada em favor do deus da primavera após o embate entre tribos rivais. O músico maturava a composição desde pelo menos 1910. “A ideia de Le Sacre du Printemps me veio enquanto ainda estava compondo O Pássaro de Fogo. Sonhei com uma cena de paganismo ritual na qual uma virgem escolhida para sacrifício dança até a morte. Essa visão não veio acompanhada de ideias musicais concretas”, conta ele numa de suas várias explicações sobre o momento de inspiração. Ao longo dos anos, em razão dos contextos, as versões se alterariam.

Revolucionária, a obra provocou desmaios, gritos e insultos. Foi um verdadeiro tumulto, como relembrou o próprio Stravinky em uma entrevista nos anos 60: "O público gritava, assobiava e vaiava desde o início. Os espectadores tinham vindo para ver balés tradicionais, como 'Sherazade' ou 'Cleópatra', e se depararam com 'A Sagração da Primavera'. Ficaram muito chocados", contou o compositor.

"A Sagração da Primavera" afunda suas raízes no folclore eslavo e na rica tradição musical russa. Enquanto a partitura extraía novos sons de instrumentos familiares e tomava liberdades com o ritmo, os dançarinos quebravam todas as regras do balé tradicional: em vez das graciosas pontas, por exemplo, os pés eram virados para dentro.

Para festejar o centenário da histórica estreia em Paris e o seu próprio aniversário, o Teatro des Champs-Elysées foi palco nos dias 29, 30 e 31 de maio, de quatro representações excepcionais do balé original de Nijinsky. Perdida durante décadas, a coreografia foi reconstituída nos anos 80 graças às pesquisas de uma coreógrafa americana e um historiador da arte inglês.

O balé do Teatro Mariinsky de São Petersburgo apresenta em Paris a coreografia original de Nijinsky para "A Sagração da Primavera".Ela foi apresentada pelo balé e orquestra do teatro Mariinsky, de São Petersburgo, junto com uma recriação inédita assinada por Sasha Waltz, um dos maiores nomes da dança contemporânea. O fato é que aos poucos A Sagração se ramificou: a alemã Pina Bausch, o francês Maurice Béjart, a norte-americana Martha Graham ressignificaram as reflexões que a peça propõe. No centro, estão a temática do feminino, do sacrifício, da purificação tão comuns na época quanto parecem ser urgentes agora em pleno século XXI. “Hoje em dia, quase qualquer pessoa pode se tornar uma vítima e os contextos sociais do sacrifício são infinitos – família, trabalho, igreja, política, guerras, etc. – e, mesmo assim, já não existem certezas acerca da absolvição”, escreve Nadja Kadel.

Apesar de curta, são cerca de 33 minutos de música, a apresentação parece ter durado bem mais tempo naquele dia. Em verdade, como um marco da vanguarda, dura até hoje.

Segue abaixo um vídeo de uma das representações da peça:

Fontes: O Povo e rfi

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