Apesar das perseguições aos cristãos, que duraram mais de 300 anos, uma exposição em Roma pretende apresentar o império dos césares como um exemplo de tolerância religiosa.
Roma caput mundi. Aquela que já foi a capital do Mundo Antigo quer uma nova consideração sobre o seu passado. Uma mostra sem precedentes, com mais de cem peças expostas no Coliseu, propõe uma revisão histórica: a de que, se todos os impérios foram brutais, o Romano talvez tenha sido o que mais acolheu as populações conquistadas.
O Império Romano ficou muito conhecido pelo seu domínio sobre outros povos, mas pouco se sabe sobre a sua grande capacidade de integração, de abertura para os estrangeiros. A Roma antiga, na sua lenda, nasce mestiça.
Na mitologia, os que reinaram lá possuíam origem étnica mista, muitas vezes humilde e até escrava. Os gregos inventaram a democracia, mas defendiam a raça pura e escravizavam os conquistados. Os romanos pensavam bem diferente: misturavam-se e assimilavam outras culturas.
Sem ocultar as atrocidades dos soldados romanos, as obras falam de um verdadeiro pluralismo religioso. Roma era uma cidade repleta de deuses estrangeiros, que podiam ser cultuados livremente. Quando os escravos eram libertados, os filhos ganhavam a cidadania com plenos direitos.
A reportagem pergunta ao curador da mostra, o historiador Andrea Giardina, se a Roma antiga era mais tolerante que a de hoje. “Vimos impérios muito poderosos, talvez mais do que o romano, como o britânico, mas esta capacidade de se abrir a relações com os que vinham de fora era excepcional. Se alguém quiser tirar uma lição para o mundo presente, ninguém proíbe", diz.
A estátua de Cláudio é emblemática. Primeiro imperador nascido fora de Roma, quis incluir representantes das províncias e de outros povos no Senado romano. O fascismo ajudou a arruinar a imagem do velho Império, pois copiou os seus símbolos.
No cinema de Hollywood, os césares foram representados como sádicos, maníacos e perversos. Muitos deles, de fato, o foram, mas também ajudaram a globalizar o mundo, respeitando algumas diferenças, dois mil anos atrás.
Até março, no Coliseu, estará presente uma Roma em toda a sua complexidade e ambiguidade, em toda a sua dimensão de violência e humanidade.
Fonte: Jornal da Globo
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