quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Caminhando entre as Deusas: Inana (parte 2)



"Antes de descer,
ela tomou todos os seus ornamentos
de poder, os sete
símbolos da sua realeza:
ela colocou na cabeça 
a coroa do deserto,
envolveu o pescoço com
minúsculas contas de lápis-lazúli
 e contas mais longas de lápis-lazúli,
escuras e reluzentes, 
caíram-lhe sobre os seios
onde duas perfeitas
gemais ovais formaram
um encantador peitoral;
pegou na mão
a régua métrica
e a escala,
colocou no pulso
o aro de ouro.
Escurecendo os olhos
como uma sombra sedutora,
cobrindo os ombros
com o manto celeste,
a deusa Inana
iniciou a sua jornada, começou
a descida para o inferno"
(Antiga oração a Deusa Inana)


Inana, como dito na semana anterior, é uma Deusa suméria. Ela era cultuada como Deusa do amor e da fertilidade. Uma das fontes de sua mitologia é creditada a sacerdotisa Enheduana, que compões 42 hinos em sua homenagem.

Inana tornou-se Deusa dos Céus em uma partida de Xadrez que jogou com seu pai, o Deus Enki. Ele possuía as Tábuas do Destino e outros conhecimentos que ajudariam o povo da terra em seu processo civilizatório. Inana visitou-o, embebedou-o e ganhou dele no xadrez. Ele havia prometido dar o que ela quisesse e ela pediu o tesouro do pai, antes que ele percebesse o que havia feito, ela já havia voltado para a  segurança da sua terra.

O mito mais conhecido de Inana é sua jornada ao inferno. Enkidu e Dumuzi, um agricultor e um pastor, cortejavam Inana para que ela escolhesse um dos dois para ser seu consorte. Inana apaixonou-se pelos tecidos de lã trazidos pelo pastor e ele tornou-se o seu favorito. Com o tempo ele começou a se achar no direito de ser rei e acreditar que sua posição havia sido conseguida por mérito próprio. Então, quando Inana decidiu descer as terras de sua irmã Erishkigel, ele viu sua oportunidade. Ninguém pode descer ao submundo e voltar, essa era a lei.

Inana ates de partir combinou com Ninshuba, seu primeiro ministro, que se ela não voltasse em três dias e três noites, ele realizaria cerimônias de lamentação implorando a todos os outros Deuses que fossem resgatar Inana. 

Ela desceu e ao deparar-se com o primeiro portão lhe foi pedido que entregasse um dos seus ornamentos de poder. Peça por peça Inana foi entregando ao descer os sete portões do submundo, até não lhe restar mais nada e ela se vê nua e sem nenhuma defesa diante de sua irmã, Erishkigel. Erishkigel, Deusa com cabeça de leoa, fedia e tinha olhos de pedra, era irmã gêmea de Inana, mas era a pior parte dela também. Ao olhar para a Deusa do Mundo Superior, seus olhos de pedra retiraram a vida de Inana. A Deusa ficou suspensa durante três dias e três noites, seu corpo foi açoitado e mutilado, para que Erishkigel pudesse provar aos outros Deuses que por mais que fossem fortes em seus mundos, no seu mundo quem mandava era Ela.

Ninshuba fez o que havia combinado com Inana e seu pai Enkil foi em seu socorro. Ele criou das poeiras de suas unhas dois seres, Kurgurra e Kalaturra, para levarem alimento e água para trazerem de volta a vida a jovem Deusa. Kurgurra e Kalaturra ao chegarem no submundo se depararam com Erishkigel dando a luz em grande sofrimento e foram socorrer a Deusa. Esta, compadecida pela ajuda oferecida, deu de bom grado o corpo de Inana a eles, mas lembrando que esta ao chegar a sua terra teria que escolher alguém para ficar em seu lugar no submundo fazendo companhia a Erishkigel.

Inana subiu e ao chegar lá em cima se deparou com seu querido consorte, Dumuzi, reinando e se refastelando em seu trono. Ela ficou furiosa com a presunção dele e o mandou em seu lugar.

Este é o mais conhecido mito de Inana. Ele fala da força e da coragem e do eterno e ténue equilíbrio entre luz e sombra. Boa jornada, galera, porque mais cedo ou mais tarde, todos passamos por ela.

 E beijocas estaladas no coração de todos.

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