terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Alquimia Vegetal: o uso das planta na medicina indígena

O conhecimento indígena do poder curativo das plantas tem provocado espanto na ciência contemporânea, pois trata de um outro tipo de ciência, muito antiga, que difere dos princípios da lógica e dos cinco sentidos convencionais, conduzindo a estados alterados de consciência.

Richard Schultes, um dos maiores botânicos do mundo moderno, afirma que tratar desse assunto é um verdadeiro desafio, pois, dentro da medicina indígena, as doenças do corpo e da alma estão intimamente ligadas.

A Amazônia é a região que abriga a maior quantidade de espécies botânicas — verdadeira riqueza natural —, que manifestam no homem não só forças orgânicas como espirituais. As divindades existentes nas plantas são manipuladas com sabedoria pelo xamanismo amazônico, tradição importantíssima baseada no uso de plantas sagradas como o cipó jagube (Banisteriopsis caapi) e a folha rainha (Psychotria viridis), que em cozimento originam o chá ayahuasca, conhecido como santo dailme, vegetal, íagé, camampi etc...

O cipó, para os índios, é fator de todo o saber e em seus rituais mágicos lhes permite prever o futuro, comunicar-se com os antepassados, descobrir os inimigos e as causas das doenças. Para as comunidades que utilizam o santo daime, é o despertar para o mundo espiritual, instrumento de revelação para o autoconhecimento.

O chá daime tem obtido sucesso nas doenças nervosas, leishmaniose (ferida braba), mal de Parkinson, malária e câncer, desintoxicando o organismo estabelecendo o equilíbrio terapêutico do doente. É também utilizado para fornecer o diagnóstico e indicar o tratamento das doenças.

O que acontece com o xamã que toma o daime é um desdobramento de sua pessoa, que consegue, por meio da concentração, sair do próprio corpo e ver qual a doença ou problema que o outro tem; da mesma forma como acontece com o efeito Kirlian, quando se vê a aura. Os xamãs entendem que a saúde depende do perfeito equilíbrio do corpo, dos sentidos, da mente e do espírito, daí a necessidade de todos os canais estarem desobstruídos para que a energia possa fluir e assim obter resultados satisfatórios.

A saúde é encarada como uma dádiva de Deus e muitas vezes as doenças acontecem pela desarmonia da pessoa com a realidade espiritual nessa vida ou em encarnações passadas. Por isso, para se obter a cura, é necessário também ter merecimento, pois algumas doenças são cármicas e não têm remédio, só a compreensão espiritual.

A utilização de ervas medicinais é muito Importante para o xamã ou curandeiro, pois muitas receitas dependem do seu conhecimento no preparo do medicamento, ou seja, a bebida mágica. No caso, o santo daime irá mostrar a ele quais as ervas que aquela pessoa precisa para se restabelecer. O chá é usado também no parto das mulheres, pois acelera as contrações, facilitando o trabalho. E cercado de um ritual próprio, onde todos os que dele participam também ingerem a bebida. Quando a criança chora, é o sinal de que o espírito encarnou naquele ser.

Ayahuasca, assim como o peyote (Echinocactus vilianosii), utilizado pelos índios mexicanos, e a marijuana (Carinabis sativa) de uso dos índios guajajaras do Maranhão, são Plantas Mestras que abrem a percepção e nos permitem uma entrada a estados de realidade diferentes do nosso cotidiano. Constitui-se em um outro plano ou dimensão de existência em que se confundem os limites de tempo e espaço, fazendo-se tudo presente. O Universo não é só o mundo que a nossa cultura acostumou-se a ver, mas vários mundos superpostos e paralelos.

O rito de transição ao qual o doente se submete num ritual com Plantas Mágicas — no caso do santo daime — é uma forma de medicina muito antiga, anterior aos incas, que renasce na região amazônica a partir do conhecimento ancestral dos grupos indígenas que vivem na região.

Fonte: FRÓES, Vera; ROCHA, Antônio. Alquimia Vegetal. Ed. Nova Era, 1977.

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