quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Perseguição aos gatos na Idade Média

A Idade Média teve início, na Europa, com as invasões bárbaras (germânicas), no século V, sobre o Império Romano do Ocidente, e com a desintegração do mesmo, em 476 d. C. (século V). Essa época estende-se até o século XV (1453 d. C.), com a queda de Constantinopla – quando houve uma retomada comercial e o renascimento urbano. A Idade Média caracteriza-se pela economia ruralizada, enfraquecimento comercial, supremacia da Igreja Católica, sistema de produção feudal e sociedade hierarquizada. A Era Medieval pode ser subdividida em 2 períodos:

Alta Idade Média – que vai do século V ao século X;
Baixa Idade Média – que vai do século XI ao século XV.

A Idade Média, foi, de um modo geral, hostil aos gatos, que eram associados às feiticeiras e feitiçarias e, considerados criaturas diabólicas. Nesta época nasceu a maioria das superstições, das quais algumas chegaram até nossos dias. O que aconteceu com os gatos que, eram adorados no Antigo Egito, para passarem a ser execrados na Era Medieval?

No Antigo Egito , em torno de 4 mil antes da Era comum (AEC), os egípcios domesticaram gatos, que, foram usados para o controle de pragas em seus estoques de grãos. Ficaram tão impressionados com as qualidades de caçador dos gatos que, passaram a considerá-los sagrados. A deusa Bastet , deusa da fertilidade e felicidade, era representada como uma mulher com cabeça de gato. Do Egito, os gatos foram levados para a Itália: na Roma Antiga, já eram considerados símbolos da liberdade e, qualquer representação da deusa da Liberdade apresentava um gato repousando a seus pés. Da Itália espalharam-se pelo restante da Europa.

A ligação dos gatos com os cultos pagãos, desencadeou uma campanha da Igreja Medieval contra eles. Nos mitos escandinavos, que originaram muitas das crenças pagãs, a carruagem de Freyja , deusa do amor e da cura, era puxada por gatos. A deusa guardava em seu jardim as maçãs com as quais se alimentavam os deuses no Valhalla, e sua iconografia é representada por gatos puxando sua carruagem, acabando por haver a associação entre o animal e a própria divindade. O culto a Freyja foi considerado heresia e os membros desta seita severamente punidos com tortura e morte. Como os gatos faziam parte do culto, foram acusados de serem demoníacos, principalmente os pretos.

O Dia de Todos os Santos era comemorado, pelos cristãos, jogando-se na fogueira, sacos cheios de gatos vivos. Os supersticiosos acreditavam que as bruxas podiam transformar-se em gatos que, eram então queimados vivos pelos cristãos que os consideravam agentes do mal. Se alguém fosse visto alimentado ou ajudando um gato, era denunciado como bruxa e era torturado e morto. As pessoas acusadas de bruxaria e seus gatos, eram responsabilizados por qualquer catástrofe que acontecesse: tempestades, falta de chuvas, má colheita, doenças, mortes súbitas, entre outros.

A partir disso, o gato converteu-se em bode expiatório para as tentativas de "purificação" da Igreja Medieval, ou seja, a eliminação de todo e qualquer vestígio do paganismo (ou Antiga Crença). Essa perseguição gerou várias superstições, como a de que cruzar com um gato preto "dá azar", que o gato é o olho do diabo, entre tantas outras superstições comuns nos dias atuais.
Essa prática de queimar gatos, acabou por estender-se a qualquer tipo de comemoração, o que quase dizimou a população felina e, consequentemente, favoreceu a multiplicação de ratos, praga que portava um mal infinitamente superior aos "demoníacos" gatos: a peste bubônica ou peste negra. 

A peste disseminou-se por toda a Europa. A peste bubônica , em meados do século XIV, devastou a população européia. Historiadores calculam que aproximadamente um terço dos habitantes morreram desta doença. A Peste Negra era transmitida através da picada de pulgas de ratos doentes. Estes ratos chegavam à Europa nos porões dos navios vindos do Oriente. E, não havia mais gatos, predadores naturais dos ratos. Além disso, as cidades medievais não tinham condições higiênicas adequadas e, os ratos espalharam-se facilmente. Após o contato com a doença, a pessoa tinha poucos dias de vida. Febre, mal-estar e bulbos (bolhas) de sangue e pus espalhavam-se pelo corpo do doente, principalmente nas axilas e virilhas. Como os conhecimentos médicos eram pouco desenvolvidos, a morte era certa.

No ano de 1400 depois da Era comum (DEC) os gatos estavam a ponto de desaparecer da Europa. Recobram-se a partir do século XVII, principalmente por sua habilidade em caçar os ratos, causadores de perdas significativas nas lavouras e propagadores de doenças temíveis para o homem, sendo aceitos, novamente, nas casas e nos navios, para acabarem com os roedores.

A partir do século XIX, o gato voltou a ser exaltado - até por escritores como Victor Hugo e Baudelaire. Porém os resquícios da perseguição contra os gatos são visíveis até hoje. Além do mais, quais segredos esses felinos realmente escondem?

Texto da Dra. Martha Follain

1 comentários:

Mariane disse...

Quanto mais eu conheço a humanidade, mais eu gosto dos felinos!

 
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