sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Religiões Indígenas: Tupi-Guarani (Parte 2)

A maior parte do  trabalho dos xamãs consiste em efetuar curas através do controle dos espíritos que provocam as doenças e, até mesmo, a morte. O  texto  seguinte  descreve  como  uma cura é efetuada:

“Os pajés preferem curar à noite, uma das razões é que assim garantem uma audiência, o  que  seria  difícil  durante  o  dia,  quando muitos estão para as roças. O pajé inicia a cura cantando as canções daquele sobrenatural que o seu inquérito leva a considerar como provável. Acompanha a  si mesmo, marcando  o ritmo  da  canção  como  uma batida forte de pé chacoalhando o maracá. Dança em volta do paciente; em geral, a  família  deste  e  alguns  dos  circunstantes o acompanham. A esposa ou um ajudante preparam-lhe os cigarros  feitos de  folhas de fumo enroladas em fibra de tawari. Um ajudante toma o maracá e o pajé preocupa-se daí por diante com a cura propriamente dita. Chupa  repetidas  vezes  no  cigarro para soprar a fumaça em suas mãos ou no corpo do paciente. Afasta-se para um lado e  chupa  no  cigarro  até  que, meio  tonto, recua de súbito e leva as mãos ao peito, o que  indica  ter  recebido o espírito em seu corpo. Sob a influência do espírito o pajé comporta-se de maneira peculiar. Se é espírito de macaco, por exemplo, dança aos saltos, gesticula e grita como esse animal. O  transe  se prolonga enquanto o espírito está forte. Algumas vezes o espírito ‘vem forte demais’ e ele cai ao chão inconsciente. É durante o transe, enquanto está possuído pelo espírito, que o pajé cura” (cf. Wagley & Galvão, 1961).

É comum que o xamã chupe uma parte do corpo do paciente e, em seguida, mostre um pequeno objeto, que teria retirado de dentro do mesmo. No  caso  tenetehara,  relatado acima, o pajé escondia esse objeto dentro
da mão para fazê-lo desaparecer depois. Mas é na direção dos rituais coletivos que o xamã demonstra o seu prestígio junto ao  grupo. Gostaríamos  de  descrever  um ritual a que assistimos entre os suruís, do sudeste do Pará.

O Ahiohaia ocorre na primeira lua cheia, depois da queimada da roça. A providência inicial para a sua celebração é o erguimento de uma casa cerimonial no centro do pátio da aldeia. Ela é toda fechada com folhas de palmeira tendo, apenas, uma pequena porta. Essa  casa,  que  recebe  o  nome  de  tokasa (esta mesma palavra significa “tocaia”), é a  representação da  itakuara  (literalmente “buraco na pedra”, caverna onde vivem os karuara). Enquanto durar a  lua cheia, os homens, devidamente pintados com  tinta de jenipapo, participam de uma dança que se realiza desde o nascer do sol até cerca de duas horas mais tarde. 

Recomeçam ao entardecer,  com  a mesma  duração,  até  o pôr-do-sol. Nesse período é interditado aos participantes deixar a aldeia, por qualquer motivo,  não  podendo  banhar-se  nos  riachos  e  principalmente  entrar  na floresta. Somente  determinadas  pessoas  podem participar da caça e ir ao igarapé buscar a água  necessária,  inclusive,  para  o  banho dos participantes. Acredita-se que o xamã, além de atrair os karuara – uma variedade de seres sobrenaturais –, atrai também as almas dos  antepassados das pessoas presentes no ritual.

De fato, uma das canções entoadas  no  início  do  ritual  possuía  um estribilho que era precedido pelos nomes de todos os antepassados que ainda constam da memória do grupo. No final do ritual, a casa é desmanchada e o material jogado bem longe no mato.

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