Caminhando entre as Deusas: ERÍNEAS (parte 2)

Você consegue ouvir o barulho que se concentra ao seu redor? Os assobios e os latidos? O fogo crepitando? Elas estão chegando.

Elas vestem preto e possuem uma pele negra, seus cabelos são cobras vivas, elas choram sangue e em suas mãos carregam tochas. Seus nomes são Tísifone (aquela que vinga os assassinatos); Alecto (a impiedosa perseguidora) e Megera (a irada invejosa) (Pietro, 2003). E elas se aproximam em busca de vingança e justiça.

Juntas elas são a Fúria Divina. Elas cobram e clamam por justiça. Que injustiça cometestes contra ti ou teus familiares ou contra outrem? Quais foram os teus erros? Pois está na hora de pagar por eles.

As Fúrias, como essas irmãs são conhecidas, são entidades antigas, remontam aos primórdios da civilização. São espíritos que carregam em si uma dualidade: a vingança e a redenção (Robles, 2006).

Nascidas do ventre da Deusa Gaia, fertilizada pelo sangue do Deus Urano e de um ato de vingança do seu filho Cronos, elas são conhecidas como as Deusas da Cólera e da Vingança (Pietro, 2003 e 2008; Robles, 2006). Por tanto, o ato de sua concepção já foi por si só um ato de vingança e justiça.

Os Deuses do Olimpo temem os seus castigos e não estão imunes ao seu poder. Ao lado de Hades e Perséfone, elas vivem no submundo causando dor as almas que lá se encontram. Elas cobram o preço pelas injustiças cometidas. E às vezes sobem a terra para começar o tormento aqui mesmo   (Pietro, 2003 e 2008; Robles, 2006).

Por terem surgido junto as civilizações, as Fúrias representam a crise moral, o carrasco da justiça. Elas velam pelas Leis mais antigas que regulam o convívio social: não matarás, não desonrará a família, não roubarás. Elas são as sementes da Lei do Tabelião e então, quando os conceitos de certo e errado precisam dos limites e as regras da sociedade sejam impostas, elas demonstram o seu poder. Elas levam a culpa, o remorso e a dor, em suma o tormento para alma dos que cometeram um mal para alguém. De início, elas apenas advertem o indivíduo e proíbem. Quando suas leis não são cumpridas, elas cobram o preço com castigos terríveis (Robles, 2006).

Para aplacar a sua fúria, os humanos criaram a confissão, a expiação dos pecados, os consultórios dos psicólogos e dentre tantas outras formas de se pedir perdão. Como se fosse uma troca de sacrifícios  (Robles, 2006). “Eu confesso minha culpa. Eu confesso o meu erro. Pago por ele em troca da redenção”!

Assim, o tormento da alma pode encontrar a harmonia da consciência e o poder das Benevolentes.

Nas Fúrias encontramos o registro das ordens e leis sociais, o carrasco do superego. Nas benevolentes encontramos a redenção e o perdão.

Se sua vida está coberta por crises, se você se sente atormentado pelos seus pensamentos, enfrente a tormenta. Reconheça o erro. Cresça com a crise, encontre as Benevolentes. No entanto, não peça vingança, peça proteção e que elas afastem a injustiça de tua vida. Com muito cuidado, elas cumprem o pedido e, às vezes, nos arrependemos das palavras proferidas no momento da raiva.

                                                                                                             

Elas sempre estão a observar, e mais cedo ou mais tarde a nossa porta irão bater. Podemos ouvi-las e com elas crescer ou podemos ignora-las e com elas sofrer.

Beijocas estaladas no coração de todos e até a semana que vem!


Bibliografia Consultada:

PRIETO, C.; A arte da invocação: invocações, textos ritualísticos e orações sagradas para praticantes de Wicca, Bruxaria e Paganismo.  São Paulo: Gaia, 2008, p. 272 

PRIETO, C.; Todas as Deusas do mundo: rituais wiccanos para celebrar a Deusa em suas diferentes faces.  2° Ed., São Paulo: Gaia, 2003,  346p. (Coleção Gaia Alémdalenda) 
ROBLES, M.; Mulheres, mitos e Deusas: o feminino através do tempo.  São Paulo: Aleph, 2006, p. 443  

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