Desde que foi encaminhado pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB) à Câmara Municipal, o projeto de lei 862/2011, que cria o cargo de professor de ensino religioso nas escolas publicas da capital, tem provocado desavenças. A audiência pública realizada na última terça-feira (14) no plenário do Palácio Pedro Ernesto reuniu representantes das mais distintas religiões: católicos, kardecistas, evangélicos, candomblecistas, umbandistas, islâmicos, hare krishnas, ciganos, protestantes, presbiterianos e até bruxos wiccas estavam no local.
Se todos entoam em uníssono que as religiões têm por base praticar o bem e criar valores, os argumentos soam dissonantes quando a busca é pelo consenso. “Aula de ensino religioso não é catequese”, disparou o padre Paulo Alves Romão, professor da PUC-RJ. “É produção de conhecimento, de princípios sólidos para a ordem social. Quando você afirma valores fundamentais, presentes em todas as religiões, você se torna capaz de dialogar com os diferentes”, defendeu.
O deputado estadual e católico Márcio Pacheco (PSC) afirmou que a proposta tem como objetivo “dar às crianças pobres as mesmas oportunidades que as crianças abastadas têm”. “As escolas boas não oferecem só matemática e português. Vejam quantos judeus matriculam seus filhos em escolas judaicas e quantos católicos colocam seus filhos em colégios católicos. Querem que tenham uma educação completa. Mas essa opção só é dada a quem pode pagar e o que estamos discutindo aqui é que essa opção seja dada aos que não podem”, argumentou Pacheco.
Presidente da Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento Islâmico, o sheikh Ahmad Mohammed argumentou que se por um lado o Estado é laico, por outro, não é ateu. “Num mundo onde a família foi devastada e muitas vezes as mães não têm tempo de ensinar a seus filhos sobre religião, cabe, sim, à escola oferecer essa oportunidade as crianças”.
De opinião contrária, o cigano Mio Vacite rebateu: “A impressão que passa é de que se a pessoa não tiver educação religiosa ou ela é vagabunda ou bandida", argumentou. "Tenho medo da ditadura religiosa. Se estamos em um país democrático, temos de pensar muito. A moral não está só na religião”.
A umbandista Fátima Damas se juntou ao coro dos contrários. “A gente sabe que nas religiões minoritárias as crianças sofrem preconceitos”, afirmou. “Mas se essa lei for aprovada, que se contemple a todos. Se não puder, que deixem a educação religiosa ser dada por pais e mães”, sustentou.
O bruxo Og Sperle, sacerdote da religião Wicca, contestou a tese de que religião é garantia de boa índole. “A religião não tem a premissa de moldar o caráter. Se fosse assim, não teríamos tantos casos de pedofilia em igrejas”, argumentou.
“Vejo que a minoria, em sua grande maioria, é contra”, disse o vereador Jorge Braz (PTdoB), bispo evangélico e contrário à proposta. “Essa lei vai passar. Não porque está prevista em nossa Constituição. Sabemos que a maioria dos nossos parlamentares é católica. Chega de hegemonia”.
A diretora de diálogo inter-religioso da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Diane Kuperman, acrescentou mais uma crítica ao debate: “Na nossa rede pública faltam professores de Matemática, Português, História etc... E nós vamos gastar o dinheiro dos nossos impostos para garantir o ensino obrigatório de uma aula cuja lei prevê frequência facultativa? Não tem coerência”, disse Kuperman, que se declarou favorável à defesa feita pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.
O deputado estadual e católico Márcio Pacheco (PSC) afirmou que a proposta tem como objetivo “dar às crianças pobres as mesmas oportunidades que as crianças abastadas têm”. “As escolas boas não oferecem só matemática e português. Vejam quantos judeus matriculam seus filhos em escolas judaicas e quantos católicos colocam seus filhos em colégios católicos. Querem que tenham uma educação completa. Mas essa opção só é dada a quem pode pagar e o que estamos discutindo aqui é que essa opção seja dada aos que não podem”, argumentou Pacheco.
Presidente da Sociedade Brasileira para o Desenvolvimento Islâmico, o sheikh Ahmad Mohammed argumentou que se por um lado o Estado é laico, por outro, não é ateu. “Num mundo onde a família foi devastada e muitas vezes as mães não têm tempo de ensinar a seus filhos sobre religião, cabe, sim, à escola oferecer essa oportunidade as crianças”.
De opinião contrária, o cigano Mio Vacite rebateu: “A impressão que passa é de que se a pessoa não tiver educação religiosa ou ela é vagabunda ou bandida", argumentou. "Tenho medo da ditadura religiosa. Se estamos em um país democrático, temos de pensar muito. A moral não está só na religião”.
A umbandista Fátima Damas se juntou ao coro dos contrários. “A gente sabe que nas religiões minoritárias as crianças sofrem preconceitos”, afirmou. “Mas se essa lei for aprovada, que se contemple a todos. Se não puder, que deixem a educação religiosa ser dada por pais e mães”, sustentou.
O bruxo Og Sperle, sacerdote da religião Wicca, contestou a tese de que religião é garantia de boa índole. “A religião não tem a premissa de moldar o caráter. Se fosse assim, não teríamos tantos casos de pedofilia em igrejas”, argumentou.
“Vejo que a minoria, em sua grande maioria, é contra”, disse o vereador Jorge Braz (PTdoB), bispo evangélico e contrário à proposta. “Essa lei vai passar. Não porque está prevista em nossa Constituição. Sabemos que a maioria dos nossos parlamentares é católica. Chega de hegemonia”.
A diretora de diálogo inter-religioso da Federação Israelita do Rio de Janeiro, Diane Kuperman, acrescentou mais uma crítica ao debate: “Na nossa rede pública faltam professores de Matemática, Português, História etc... E nós vamos gastar o dinheiro dos nossos impostos para garantir o ensino obrigatório de uma aula cuja lei prevê frequência facultativa? Não tem coerência”, disse Kuperman, que se declarou favorável à defesa feita pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.
[Fonte: Flávia Salme, iG Rio de Janeiro | 14/06/2011 22:00]
2 comentários:
Dizer que uma mãe não tem tempo para ensinar religião ao seu filho é no mínimo um pensamento desprovido de percepção. Não existe tamanha ocupação que prive alguém de aprender religião e boas maneiras na sua família. Da mesma forma que concordo que deveriam cuidar da estrutura do nosso ensino regular antes de se preocupar com inclusão de novas matérias escolares.
Isso só termina em confusão, como pode se bem ver, se o estado é laico então não se deve ministrar essas aulas, religião é uma opção pessoal e espiritual, nenhum professor de religião não deixaria de ter a sua, o que possibilitaria trabalhos muitas vezes em cima desta... Nem todos seriam imparciais; acho desnecessário numa escola, se for pra falar sobre moral e outras coisas mais, a filosofia e a sociologia servem pra isso, se bem que nenhum professor que eu tive dessas matérias foi realmente indiferente a religiosidade dos alunos ou despertaram interesse por suas aulas, pois esta não servia para o vestibular e os alunos desconsideravam.
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