Aqui encerramos nossa série de postagens, dividida em 4 partes, sobre a religiosidade do Antigo Império Inca. Espero que tenham gostado. Por sugestões de um de nossos leitores, o Lord A., ativista Vampyrico no Brasil, uma outra postagem será feita que diz respeito ao tema. Agradecemos a todos aqueles que leem nosso blog e qualquer sugestão ou crítica, comentem ou nos enviem um e-mail. Bençãos Plenas!
A hierarquia social se manifestava também entre os encarregados do culto do Deus-Sol.
Sobre todos eles pontificava o Sumo Sacerdote do Sol, quase sempre extraído do ayllu Urin Tarpuntae (pois os membros deste ayllu eram tradicionalmente os encarregados de alimentar os mallquis nas huacas), seguido pelos Sacerdote do Sol e os de outras divindades.
Uns eram especializados em dirigir os ritos, outros em custodiar os oráculos, terceiros em administrar as propriedades e posses do Culto do Deus-Sol, e outros, ainda, exerciam funções divinatórias (como os qallparicuc - que viam o futuro através de vísceras -, os huirapiric - que prognosticavam com fumaça e folhas de coca em água -, os achicoc, - que usavam milho e esterco de llama em sua prática divinatória -, os camasqa - que utilizavam ervas com o mesmo fim -, e os yacarcaes, que afirmavam pactuar com os habitantes de Ucupacha).
Os sacerdotes utilizavam os serviços de yanas para cuidar de suas plantações e gado, de artesãos para confeccionar-lhes objetos e roupa, e de músicos, poetas, bailarinos e cantores para diverti-los; obviamente, quanto maior o templo (os mais importantes foram o Q'oricancha, o de Pachacámac e o de Coati, no lago Puquinacocha ou Titicaca), maiores o poder, o número de servidores e o luxo das instalações, vestimentas e objetos de adorno.
Existia também um sacerdócio feminino e, a despeito de sobre isto haver poucos registros, tais mulheres deviam pertencer sempre aos estratos mais elevados da sociedade (nobreza inca, cápacs e jatúncuracas); entre elas se destacavam as yurac acllas, escolhidas entre a nobreza cusquenha, nomeadas esposas virgens do Deus-Sol e recluídas nas acllahuasis, as mesmas mulheres que na idade adulta receberiam o título de mamaconas e exerceriam o papel de transmissoras de ritos e técnicas têxteis ou artesanais para acllas mais jovens (veremos em detalhes, adiante, o papel econômico e político das acllas e das acllahuasis no Tahuantinsuyo).
Os sacerdotes não se dedicavam apenas às tarefas do culto: podendo casar-se e se dedicar a outras atividades, alguns até mesmo faziam comércio (como os de Pachacámac, na costa) e quase todos participavam das decisões e da prática política, especialmente os da saya Urin; mas após Pachacútec o Sapainca passou a intervir mais diretamente ainda em assuntos religiosos, como forma de manter o Culto do Deus-Sol sob controle político, já que Huiracocha, seu pai, estabelecera a nomeação direta do Sumo Sacerdote do Sol pelo Sapainca.
Assim, através do Sumo Sacerdote do Sol o Sapainca controlava indiretamente todo o aparelho burocrático-religioso, a produção teológica e os ritos do Tahuantinsuyo, exercendo total domínio sobre a população e mantendo a coesão da vida cotidiana no Estado.
[Fonte: FREITAS, Luis Carlos Teixeira. Tahuantisuyo - O Estado Imperial Inca. Luzcom Multimakers, 1997]
0 comentários:
Postar um comentário