Com o tempo, os apelidos podiam ser substituídos por outros que se tornavam mais apropriados.
A fim de evitar a influência nociva dos espíritos ruins ou de outros indivíduos, as pessoas recebiam muitas vezes um nome que descrevia um defeito seu, não raras vezes fictício: Nekrás (feio), Zloba (raivoso), Kriv (vesgo de um olho só). Segundo a crença popular, um nome despretensioso assim protegia o seu dono do mau-olhado e de pragas. Era a lógica do princípio "do contrário": se você já é chamado de vesgo não ficará mais vesgo.
Sob o signo de dois nomes
Depois de surgirem os nomes cristãos na Rússia, os apelidos não desapareceram, mas antes se tornaram um complemento do nome principal. Eles eram usados tanto no meio da classe baixa, como entre as pessoas mais nobres: o grande líder militar Aleksandr Névski (Neva), o educador e poeta Semion Polótski (Polotsk) e o príncipe moscovita Ivan Kalita (Kalita). Os nomes "apelidados” estiveram em uso até serem proibidos por Pedro 1º. Mas já a partir do século 15 eles começaram a ser transformados em sobrenome.
Entre os séculos 14 e 16 era tradição na Rússia dar à criança, no momento do nascimento, o chamado nome direto, em honra do santo que fosse homenageado nesse dia. Ao contrário do nome público, o nome direto era usado no círculo íntimo da família e dos amigos. Assim, o czar Vassíli 3º usava o nome direto de Gavriil e seu filho, Ivan, o Terrível, era conhecido como Tit. Às vezes surgiam situações paradoxais: podia acontecer de dois irmãos serem homônimos absolutos, tendo ambos o mesmo nome público e o mesmo nome direto. O filho mais velho e o filho mais novo de Ivan, o Terrível, tinham ambos o nome público de Dmítri, enquanto no círculo dos mais chegados eram conhecidos por Uar.
A tradição do nome direto tem a sua origem na linhagem dos Rurik, os grandes príncipes dessa dinastia que governou a Rússia antes dos Romanov e que usava tanto nomes pagãos, como nomes cristãos: Iaroslav-Guiórgui (Múdri) ou Vladímir-Vassíli (Monomakh).
Na dinastia Rurik havia duas categorias de nomes: os nomes eslavos, que eram compostos por duas partes –Iaropolk (Iaro-polk; Iar, "calor"), Sviatoslav, Ostromir– e os nomes escandinavos –Olga, Gleb, Ígor. Apenas os nobres tinham nome. Somente no século 14 é que os nomes se tornam de uso comum. Curiosamente, o nome da linhagem não podia ficar livre: se morria o avô, o seu nome era dado ao neto recém-nascido, no entanto, não se permitia dois irmãos-xarás ao mesmo tempo.
Com o fortalecimento do cristianismo na Rússia, os nomes eslavos começaram a se tornar coisa do passado. Havia até mesmo uma lista de nomes banidos e particular interdição recaía sobre os nomes associados com o paganismo, como era o caso de Iarilo ou Lada. Também a linhagem dos Rurik acabou por ter que ir recusando gradualmente as preferências dinásticas em favor de nomes cristãos. Já Vladímir Sviatoslavitch recebeu o nome de Vassíli no batismo e a grã-duquesa Olga, o nome de Elena.
Fonte: Gazeta Russa
1 comentários:
Muito legal Douglas. Temos poucos estudos publicados sobre paganismo russo .Parabéns pela pesquisa.
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