O ser humano sempre se preocupou em saber as possibilidades do seu destino, para se preparar para ele ou tentar combater as alternativas indesejáveis. Nas civilizações antigas, as adivinhações eram ligadas às previsões do tempo, da astrologia ou da astronomia, por exemplo. O futuro era lido em números, animais e consultas aos espíritos. Alquimistas, magos, bruxos e outros visionários interpretavam fenômenos naturais e sobrenaturais. Muitos locais onde se faziam previsões eram chamados de oráculos. As pessoas que faziam previsões também eram conhecidas como oráculos. Eles ajudavam os homens a compreender os desígnios dos deuses e eram consultados antes de decisões importantes.
Havia também os oráculos transmitidos através dos sonhos, nos rituais de cura chamados “mântica por incubação”. Asclépio, mestre em medicina e filho de Apolo, tinha seu santuário mais famoso em Epidauro. Lá, os doentes passavam a noite e esperavam que o deus indicasse a cura para as doenças através das profecias recebidas durante o sonho.
Além de Epidauro, o oráculo mais famoso ficava na região montanhosa de Delfos, local religioso mais importante do mundo grego, considerado o centro do mundo e representado pelo “omphalós” , a pedra em forma de umbigo. Uma lenda diz que Zeus mediu o centro do mundo soltando duas águias de lugares opostos da Terra; ambas se cruzaram próximo ao Monte Parnaso, onde foi colocada a pedra. Outra lenda diz que cabras pastavam pelo monte quando se aproximaram do local de onde saíam vapores que as deixaram em convulsões.
Nesse lugar havia um oráculo mais antigo consagrado à deusa Gaia, guardado pela serpente Píton. Apolo matou a serpente e tomou o Oráculo. Derivados do nome da serpente, os nomes Pítia ou Pitonisa denominavam a sacerdotisa que recebia previsões no Oráculo de Apolo. Os vapores e a água da fonte Castália, que saíam de uma fenda do Parnaso, auxiliavam na preparação da pitonisa. Estudos científicos atuais tentam confirmar se gases encontrados nas falhas geológicas da região do Parnaso poderiam ter sido os vapores que induziam o transe das pitonisas.
Sob efeito da inalação dos vapores e possuída por Apolo, a pitonisa profetizava. Muitas vezes as palavras não faziam sentido e eram interpretadas pelos sacerdotes. A linguagem simbólica nem sempre permitia interpretações corretas, como na história de Creso, rei da Lídia, que consultou o Oráculo antes de atacar a Pérsia. Se o fizesse, destruiria um grande império, foi a resposta obtida. O rei interpretou a seu favor e, ao atacar a cidade, destruiu mesmo um grande império, o seu.
Como diz um ditado, “cada um ouve o que quer”, assim foi também com Neo, no filme “Matrix”, ao consultar o Oráculo para saber se era predestinado a salvar o mundo. No filme, a humanidade estava presa na Matrix, mundo virtual criado pela inteligência artificial que os próprios humanos criaram. Os que não aceitavam essa realidade criam na profecia que um predestinado libertaria a humanidade das máquinas. No início, Neo não acreditou ser esse herói, nem o oráculo ajudou na resposta para sua dúvida, disse que somente ele podia encontrar a verdade. A questão é o livre-arbítrio, a liberdade de fazer escolhas.
Nem sempre os oráculos permitem escolhas. As mais famosas previsões dos oráculos estão nas fatalidades de alguns personagens da mitologia, como Édipo. Quando seus pais reinavam em Tebas, souberam que se tivessem um filho, ele mataria o pai e casaria com a mãe. Quando nasceu o bebê, livraram-se dele, mas ele continuou vivo. Já adulto, Édipo soube da profecia e, pensando se tratar de seus pais adotivos, fugiu. Na estrada, brigou com Laios sem saber que era seu pai, resolveu o enigma da Esfinge de Tebas e casou a rainha Jocasta. Depois descobriu que matou seu pai e estava casado com a própria mãe.
Édipo não teve liberdade para evitar seu infortúnio. Uma das características do oráculo grego era a fatalidade, não havia como fugir do destino. Nessas histórias, os deuses mandavam prenúncios aos oráculos, mas o destino não dependia dos deuses, pois também eles eram submissos às Moiras.
Desde o nascimento até a morte, as Moiras controlavam os destinos de cada um. Cloto tecia o fio da vida; Láquesis sorteava quem ia morrer; Átropos cortava o fio no momento previsto. Esse determinismo do destino como lei imutável não aparece em todas as histórias, muitos heróis foram purificados através de sacrifícios. Pela redenção da culpa, conseguia-se o poder de moldar seu destino.
No mundo moderno não há oráculos como o de Delfos, mas ainda há vários instrumentos de adivinhações, como runas, tarô e quiromancia. Por mais que saibamos um pouquinho sobre o que nos aguarda, parece que o mais importante é o livre-arbítrio, que deve comandar as ações conscientes e facilitar o autoconhecimento. Diante disso a única saída é seguir o que dizia na entrada do Oráculo de Delfos: “Nosce te ipsum ”, “Conhece-te a ti mesmo”.
Camila Mendes
Blessed be
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