Retirado do site Bruxaria.net
Joana D’Arc foi uma mártir francesa, heroína da Guerra dos Cem Anos contra a Inglaterra. Sua participação, movida por uma fé inquebrável, foi decisiva na guerra. Nasceu em 1412 e morreu em 1431, aos 19 anos de idade. Alguém pode imaginar a força de liderança que havia nessa jovem durante o período medieval da França? Ou então as pessoas que lutaram atrás dela o fizeram por acaso ou ela realmente tinha algo em si.
Joana nasceu no dia 6 de janeiro de 1412 na cidade de Domrémy, em uma família modesta, e aos 13 anos começou a ouvir vozes divinas. Tais vozes lhe diziam que ela deveria salvar a França das mãos dos ingleses. Durante cinco anos, ela manteve tais mensagens em segredo. Não sabemos o motivo ao certo, mas ela não devia compreender o que estava acontecendo com ela e, mesmo se compreendesse, ficaria em silêncio para não ser castigada pelos pais e pelo padre local, provavelmente.
Vale lembrar aqui que “ouvir vozes” estava totalmente relacionado às práticas de Bruxaria na época. É claro que não são bruxas todas as pessoas que ouvem vozes, mas Joana ouvia vozes do que dizia ser uma divindade. Se fosse de sua mente, ela provavelmente pensaria que estava louca. Mas não. Em todos os relatos sobre a trajetória de Joana, há essa verdade: as vozes que ela escutava eram de uma divindade ou, como ela mesmo dizia, “santos”.
Em seu julgamento, Joana admitiu ter dançado ao redor da “Árvore da Fada” e um de seus amigos que “honrava as fadas” também foi queimado como bruxo na mesma época. Ela disse que eles eram “santos”, São Miguel e Santa Catarina, ambos antigas divindades com disfarces cristãos; São Miguel representando o Deus Sol e Santa Catarina representando Cerridwen. Isso explica a popularidade desses dois santos como patronos das igrejas e capelas construídos sobre colinas, os velhos “santuários das alturas”.
Joana esquivava-se das perguntas, e com “São Miguel apareceu nu para você?” não foi diferente. Que tipo de pergunta era esta? Estaria relacionada a algum tipo de ritual da fertilidade?
Em 1429, ela deixa a sua casa na região de Champagne e viaja para a Corte do rei francês Carlos VII. Lá, o convence a colocar as tropas sob o seu comando e parte para libertar a cidade de Orléans, sitiada há oito meses pelos ingleses. Liderando um pequeno exército, derrota os invasores em oito dias, em maio de 1429. Um mês depois, conduz Carlos VII à cidade de Reims, onde ele é coroado em 17 de julho. A vitória trazida pelas tropas de Joana em Orléans e a coroação do rei fizeram a esperança do povo renascer. Desejavam libertar o país de vez.
De qualquer forma, o preconceito contra ela ainda era grande, por aqueles que não a conheciam. Afinal, ela era mulher, e para eles isso já bastava. Como podia, eles pensavam, uma mulher liderar um exército de homens e ainda conseguir ótimas vitórias estratégicas? Muitos não aceitavam essa hipótese. E é importante lembrar como na época as mulheres já eram bastante recriminadas, “sujas”, de acordo com os eclesiáticos e, portanto, pecadoras. Vistas como inferiores aos homens, é realmente de se espantar que uma mulher como Joana tenha conseguido tudo o que conseguiu.
Escandalizava muitos os padres que a julgaram o fato de ela sempre se vestir com roupas masculinas. Apesar de esta poder ser uma forma que ela tenha encontrado para passar sobre o preconceito contra as mulheres, não podemos deixar de lembrar de tradições pagãs onde as sacerdotisas por vezes representavam o Deus ou a Deusa. Joana em trajes de homens poderia muito bem estar representando o Deus das bruxas, especialmente por causa de seu curioso emblema adotado por ela como estandarte pessoal: a espada vertical com a ponta circundada por uma coroa, com uma flor-de-lis de cada lado, figura idêntica ao Ás de Espadas, símbolo místico utilizado por ocultistas até hoje, desde o tarô.
Podemos pensar na possibilidade de Joana ser uma bruxa de verdade. É claro que o conceito de “bruxa” em 1420 não é o mesmo conceito de bruxa em 2004. Mas não podemos esquecer dos mitos envolvendo as deusas caçadoras, como Ártemis e Diana, e sua eterna força de vontade perante a vida. A trajetória de Joana D’Arc é bastante semelhante, e podemos ver muitos traços da Caçadora em sua história.
Então, na primavera de 1430, Joana retoma a campanha militar e tenta libertar a cidade de Compiégne, dominada pelos borgonheses, aliados dos ingleses. É presa em 23 de maio do mesmo ano e entregue aos ingleses.
O interesse destes, no entanto, não era simplesmente matá-la ou torturá-la. Eles queriam ridicularizá-la frente aos seu povo. Se eles tinham essa intenção, era porque a influência de Joana entre os camponeses era muito grande. As bruxas tinham grande influência sobre o povo em suas épocas, pois geralmente eram as parteiras da região, ou conhecedoras de ervas curativas. Toda aldeia sempre tinha uma bruxa, que era vista com bastante respeito.
Foi então que a processaram enfim por Bruxaria e heresia, já que ela argumentava ouvir vozes dentro de si que a comandavam, entre outras razões já vistas anteriormente. Impossível não fazer uma apologia à clássica frase da sacerdotisa Viviane, em ‘As Brumas de Avalon’: “É a Deusa quem comanda os meus atos”. Assim, Joana foi submetida a um tribunal católico em Rouen, sendo condenada à morte após meses de julgamento.
Na mesma cidade, no dia 30 de maio de 1431, Joana foi queimada viva, aos 19 anos. Suas cinzas foram jogadas no rio Sena.
A revisão de seu processo começou a partir de 1456 e a Igreja Católica a beatifica em 1909. Ironicamente, Joana D’Arc, queimada como bruxa e herege, foi canonizada como santa pelo Papa em 1920.
Gerald Gardner diz, em ‘O Significado da Bruxaria’: “A Igreja julgou e condenou Joana por heresia, em parte porque era o que eles estavam interessados em reprimir, e em parte porque sua heresia era fácil de ser provada. (…) Sua heresia estava clara, e eles conseguiram tirá-la do caminho, como queriam. (…) Joana teria se divertido muito em ouvir que havia se tornado uma santa cristã.”
Fica então a pergunta: Joana era mesmo uma Bruxa? Não temos a intenção, e nem poderíamos, de esgotar esse assunto com este texto, mesmo porque tal missão é impossível. Não temos dados detalhados sobre a vida de Joana D’Arc a ponto de dizermos certamente se ela era uma bruxa ou não. Mas, através dos fatos que temos, podemos chegar bem perto do conceito que temos de Bruxaria. Cabe a você, leitor, chegar a uma conclusão.
- Douglas Phoenix -